PORQUE NÃO HÁ INFECÇÃO?

Um dos grandes pesadelos das pessoas infectadas, que se preocupam em não infectar outras pessoas especialmente no que diz respeito ao seu parceiro/a sexual é saberem até onde podem ir numa relação e se podem ou não facilitar em algumas formas de sexo, sem usarem o preservativo.
Outro ponto importante é o desejo de terem filhos e terem medo de infectar o seu parceiro/a, no caso de um deles ser sero-negativo. As lavagens de esperma e a fertilização in vitro custam fortunas e não estão ao alcance de todos e eram até há bem pouco tempo o único meio seguro segundo o conhecimento científico acreditado até então.
Quando cientistas suíços há mais de um ano reconheceram que pessoas infectadas com cargas virais indetectáveis por um período superior a seis meses não transmitiam a infecção aos seus parceiros, toda a comunidade científica ficou abalada.
Timidamente antes da declaração suíça havia estudiosos que referiam que quanto menor fosse a carga viral menor seria o risco de transmissão da infecção, mas ninguém tinha a coragem de fazer uma afirmação como fizeram os suíços.
Actualmente chegou-se à conclusão que a esmagadora maioria de novas infecções é perpetrada por pessoas infectadas que desconhecem o seu estado serológico, que estão na fase aguda da infecção ou que não tomam retrovirais para controlo do vírus.
É preocupante que a comunidade científica não tenha a coragem de falar sobre os riscos de transmissão em certos casos, mesmo face a evidências que se vão acumulando e que sustentam a teoria de que pessoas com o HIV controlado representam apenas um risco residual na transmissão do vírus.
Vejamos casos concretos de relações desprotegidas, onde o vírus não é transmitido.
João e Manuela são ambos VIH + e fazem a terapia retroviral estando o vírus controlado. Manuela fica grávida e o bebé nasce VIH negativo.
António está infectado e Maria sua esposa é sero negativa. Maria fica grávida e dá à luz um bebé não infectado. Maria depois de vários testes continua negativa ao VIH.
Joana está infectada e Artur seu companheiro não. Nasce um bebé sem infecção e Artur continua negativo ao VIH.
Pedro e Amália não tomavam retrovirais. Durante a gravidez Amália que estava infectada tomou retrovirais e o bebé nasceu sem a infecção pelo VIH.
Estes casos aqui apresentados são multiplicados por milhares de outros casos semelhantes, que vão enchendo as bases de dados mundiais e constituem evidência científica acerca da não transmissão do vírus, em certos casos.
Aguarda-se com ansiedade uma declaração baseada em estudos científicos, que dê força a toda a evidência prova com suporte nestes dados, para que certos medos desapareçam de uma vez para sempre e para que casais seropositivos possam viver uma vida mais feliz e sem receios infundados sobre uma possível infecção.
A felicidade de muitos seres humanos que se amam e vêm no HIV um entrave à consolidação de uma relação e de uma vida a dois e à formação de famílias assim o exige.

8 comentários:

Odele Souza disse...

Sem dúvida Raul, se houvesse mais informação por parte da comunidade científica, muitos medos infundados sobre contaminação pelo vírus da Aids desapareceriam e as pessoas poderiam exercer a sexualidade em sua plenitude. Espero que em um futuro não muito distante, possamos ver isto acontecer.

Um abraço Raul.

MARIA disse...

Olá Raul, tenho tido muito poucas possibilidades de vir por aqui com tempo para comentar. Mas sempre venho.
É verdade que toda a informação é muito importante. Quanto mais esclarecidas estiverem as pessoas, melhor lidamos todos com a questão que é sem dúvida um problema de todos.
Por isso este espaço que serve essa finalidade como poucos, é um espaço de bem comum e de utilidade pública com grande valor e assim deve ser reconhecido.
Lembrei-me de vós particularmente, hoje e decidi assinalar a visita.
Seria pela "Maria" constar do texto ? O Raúl ter-me-á chamado ?
:-) Estou, claro, a brincar, como já me é habitual e o Raúl já conhece. Em todo o caso , porquê António e Maria? Em regra não é Maria e ... ai, já não sei... Tudo bem. Como fez está perfeito.
Raul muita força sempre na vossa luta, muitos beijinhos, também ao Paulo e aos demais amigos.
Com amizade real.
Maria

Alexa disse...

Raul
Perfeito este post:
A falta de informação faz o medo crescer, e a ignorância instalar-se.
As pessoas infectadas com HIV podem e devem gozar a sua sexualidade na sua plenitude. Seja o parceiro infectado ou não.
Por isso estas informações são pérolas raras que se devem guardar dentro da nossa essencia.
Obg. Raul
e um beijo

Biby disse...

Olá Raul!
Acredito que a comunidade cientificas tenha receio das consequencias dessa declaração suiça.
A carga viral pode estar indetectavel no sangue mas o mesmo não acontecer no esperma. A duvida está aí!
A pessoa pode fazer a carga virica e estar indetectavel e ao fim de uma semana se apanhar uma gripe ela pode subir e neste caso há o risco de infectar o/a parceira/o.
Claro que faz sentido que quanto menor for a carga virica menor o risco de infectar outra pessoa.
Na verdade tive uma cliente que o marido é infectado há muitos anos e tomava a medicação com carga virica indetectavel e durante 6 anos fizeram sexo sem preservativo mas um dia ela ficou infectada. Esta foi mais uma mulher que afirmava infectar-se por "amor", de qualquer maneira "escapou" durante 6 anos. Ela sabia os riscos mas não se queria proteger.
A verdade seja dita: Ainda estamos a aprender muito com o VIH e em todo mundo tem sido realizados esforços para cada vez mais saber sobre esta doença.

Fatyly disse...

Vou repetir-me, mas obrigado por mais este texto magnífico e acessível a todos, com uma informação e interrogações sobre a problemática da sida.
Passo a passo a ciência vai chegar lá e tenho a certeza, para felicidade de milhões, mais depressa do que julgamos.
Nos entretantos os infectados, os não infectados e quem se interessa e se preocupa em ajudar e estar a par de tudo...desesperam, mas é aí que todos devemos dar as mãos com verdade e sem descriminações.

Uma beijoca rapaz e que tudo esteja a correr pelo melhor

f@ disse...

Olá Raul,

É importante espantar os fantasmas para que o ser humano viva em pleno...o que não implica certos cuidados... as pessoas quando olham o sol abrir vão logo a correr para a praia... e esquecem mtas vezes o protector...

Beijinhos

São disse...

Seria bom para Sua Santidade ler estes textos.
Bom fim de semana.

SILÊNCIO CULPADO disse...

Raul
Ainda não comentei este texto que é importante do ponto de vista da prevenção mas que se revela demasiado insistente no tema infectado versus relação amorosa. E isto porque se se entende que o infectado tem direito à sua própria realização sexual e emocional também deveremos enquadrar a sua situação patológica no comum da vida em que cada relação amorosa é um caso e portanto vivida pelos seus actores à sua maneira.
Dito por outras palavras, há que aliviar o enfoque no papão doença sem prejuízo do alerta que deve estar presente.
Porque por vezes a discriminação está mais dentro do pseudodiscriminado que a interioriza que nos olhos daqueles que o rodeiam.

Abraço