O CAMINHO DA ESPERANÇA

Há quem desanime pela dor da espera enquanto se esgota a capacidade de acreditar que a cura do HIV será possível. Eu entendo, porque a paciência é um atributo para quem está de fora e não sente na pele a inquietação e o medo. Os efeitos colaterais da medicação são setas que perfuram a resistência sofrida e que dão forma à ideia de que a cura, quando e se vier, já não será para todos.
O que é facto é que o caminhar é penoso mesmo para os que não são portadores do HIV, razão pela qual muitos vão ficando pelo caminho. Mas o caminhar é menos penoso quando não é solitário, quando os afectos são verdadeiros e se multiplicam, quando a mente interioriza que a cura acontece apenas àqueles que conseguem acreditar.
Depois do caso da cura dum norte-americano de 42 anos, que submetido a um transplante de medula com vista a curar uma leucemia se viu curado do HIV, outras noticiais recentes apontam avanços consideráveis no mesmo sentido.
Os cientistas sabem hoje o que têm de especial as células imunitárias de seropositivos que não desenvolvem sida depois de comprovarem que há pessoas capazes de controlar o vírus durante anos sem tomar medicamentos.
O VIH necessita das células do sistema imunitário chamadas linfócitos T CD4+. Usa estes glóbulos brancos para se replicar e manter-se no organismo. A maioria das pessoas que contrai o vírus da sida sofre, ao longo do tempo, uma diminuição gradual das CD4+, enquanto o número de vírus vai aumentando.·O corpo fica com tão poucos CD4+ e o sistema imunitário tão debilitado que uma bactéria geralmente inofensiva pode transformar-se numa infecção muito grave.A ciência criou há muito glóbulos brancos especializados em matar células infectadas por vírus, chamados linfócitos T CD8+. Numa dada fase da infecção do VIH, os CD8+ atacam os CD4+, reduzindo o número de cópias de VIH. Mas, na maioria das pessoas infectadas, a partir de certa altura os T CD8+ deixam de ter actividade suficientemente forte para combater o vírus.·Os investigadores aperceberam-se que cerca de 0,2 por cento da população, reage de outra forma. As células CD8+ deste grupo continuam sempre a destruir as células CD4+ infectadas, mantendo o VIH em quantidades mínimas — menos de 50 vírus por mililitro de sangue, indetectável pelas análises normais.·A equipa que integra Stephen Migueles, autor do estudo agora publicado na revista Immunity, mostra que nesta população a actividade dos CD8+ é muito maior do que na maioria das pessoas. Estas células, ao reconhecerem os CD4+ infectados, tocam neles e injectam-lhes grânulos com enzimas capazes de provocar a auto-destruição das células infectadas. Os cientistas, do Instituto Naciuonal de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA, em Bethesda (Maryland), viram que esta actividade é efectiva e prolongada.·Através de substâncias capazes de activar linfócitos, os investigadores conseguiram pôr os CD8+ de doentes normais cultivados em laboratório a funcionar da mesma forma que os desses 0,2 por cento da população.
Segundo a imunologista Ana Espada de Sousa, do Instituto de Medicina Molecular, a diferença tem que ver com a qualidade dessa capacidade de destruição e isto prova que não é uma função perdida por estas células e que o estudo das CD8+ é fundamental para a criação duma vacina eficaz. Algo que permitirá controlar definitivamente o HIV.

26 comentários:

f@ disse...

Acredito que a vacina está a caminho... também vi ontem uma notícia a no Jornal O Público que me deixou com a ideia que poderá haver um maior empenho cientifico e social nesse sentido... Vamos acreditar...
beijinhos das nuvens

. intemporal . disse...

Lídia

Muito obrigado por este post muito bem redigido e vastamente ilucidativo.

Nos últimos dias, tenho andado arredado das notícias em geral e não sabia desta informação.

Por isso o Sidadania é ímpar na divulgação imediata e cuidada dos acontecimentos, que a serem como este, qualquer dia pularei de alegria !

Será?

Sou sempre muito céptico, mas olhe que começo a acreditar...

Um abraço apertado

. intemporal . disse...

Queria ainda dizer que desde sempre a urgência foi conseguir obter-se medicamentos que controlassem a replicação viral, de modo a fazer face a milhares de mortes pela acção destruídora do VIH, à vontade no organismo humano.

Conquistada essa ambição e cada vez mais com perfis mais favoráveis, luta-se agora, não no controle da replicação viral (pois já foi conseguida) mas na possibilidade de ser o organismo, neste caso o sistema imunitário, a controlar e erradicar o vírus.

Sempre achei e apesar dos meus modestos conhecimentos que é por aqui que lá chegaremos e penso que o Raul partilha da mesma opinião.

A seu tempo, vejamos a opinião do Raul.

Outro, abraço!

SILÊNCIO CULPADO disse...

f@

Eu sinto que algo está para acontecer. Não se trata apenas da investigação científica com avanços e recuos. Trata-se de algo mais consistente e que se prende com o facto de haver já alguém que se curou definitivamente da Sida. Então é porque há um caminho para a cura.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Paulo

Eu acredito que é por aqui que lá chegaremos se bem que seja leiga na matéria. E a ser este o caminho estaremos muito próximos de o percorrer.

Abraço

Branca disse...

Boas notícias Lídia! Fico muito feliz, embora cautelosamente feliz! Mas acredito que a ciência acabará por encontrar um caminho para a cura.
Obrigada pela partilha.
O teu texto está muito completo e aprendi muito com ele.
Beijinhos.
Branca

SILÊNCIO CULPADO disse...

Brancamar
Estou esperançada e anseio por ver a cura de perto, cara a cara, pondo fim a esta pandemia que afecta mais de 33 milhões de pessoas em todo o mundo.
O que me aflige é pensar que esta cura, quando vier, será só para quem tiver acesso a ela e que em África, por exemplo, não chegará às populações que vivem na miséria.

Abraço

R.Almeida disse...

Sempre acreditei que a solução para a cura da infecção pelo HIV não está no combate dentro das células CD4 evitando o uso da maquinaria genética da célula para o VIH se reproduzir, mas sim fora dela evitando que e célula seja contaminada. Com o advento do primeiro inibidor de fusão e depois o bloqueador dos co-receptores CCR5 , fiquei esperançado pois o combate dava-se às portas de entrada da célula, no entanto as coisas não foram/são bem assim.
Estamos numa fase de mudança em que já existe muito know-how sobre o vírus. As grandes empresas farmacêuticas começam a dar sinal de partirem para outras investigações noutros campos que não o do HIV, que são mais promissores e atractivos para grandes lucros, como por exemplo o vírus da hepatite C, que tem um mercado de mais de 150 milhões de infectados.
Mas nem tudo são más notícias, pois os pequenos laboratórios de investigação na área do hiv estão a proliferar por todo o mundo e novos métodos de combate ao vírus a serem desenvolvidos. Moléculas iniciadas e não desenvolvidas que podiam ser promissoras voltam aos tubos de ensaio, e novas mentalidades de gente jovem ligada à ciência podem fazer a diferença. A flexibilidade na investigação pode levar a grandes descobertas e é aí que reside a minha esperança.
Pessoalmente e creio ser este o desejo de milhares de seropositivos, que tomam os cocktails químicos para combate ao vírus, se nos arranjarem umas medicações sem efeitos secundários devido à sua toxicidade, que não originem a destruição gradual do nosso corpo e seus órgãos vitais ficaremos imensamente felizes.
Já agora e se não for pedir muito, medicações com sabor a laranja, morango e groselha.
Talvez seja melhor não, ou todo o mundo vai querer ser HIV+

Fatyly disse...

Gostei muito deste texto muito ilucidativo, bem como os comentários.
Aprendi mais qualquer coisa.
Pouco se fala dos nossos cientistas mas sei que trabalham muito, como é óbvio em parcearia com investigadores mundiais e pelo que vou lendo sinto, acredito que estão mais próximos da cura ou vacina do que julgamos.
Já agora adorava que fosse descobertopor um(a) cientista portuguesa, porque não? :)

Recordo-me que nos inícios dos anos 80 a loucura que foi com a A encefalopatia espongiforme bovina, vulgarmente conhecida como doença da vaca louca ou BSE, morreu tanta gente, gado abatido, os cientistas fervilhavam no meio dos tubos de ensaio...e num ápice foi irradicada e controlada.

Vamos ter esperança e sorrir e muita força a quem luta com esse "desgramado" e de mãos dadas não vos/nos deixemos esmurecer.

Um enorme abraço e um resto de bom dia apesar desta açorda chuvosa:)

sideny disse...

lidia
OS infectados esperam,e como temos esperado a cura.
eu acho que ainda vai demorar muito mas quem sabe?
de resto o raul disse tudo.
Nós temos paciencia, não temos é tempo.
beijinho

SILÊNCIO CULPADO disse...

Raul

Fatyly

Sidney

A seguir transcrevo parte de noticia do Público de hoje.

"A Nobel da Medicina de 2008, Françoise Barré-Sinoussim, estima que em quatro ou cinco anos haja uma vacina terapêutica para o VIH/sida. A professora e investigadora francesa defendeu que dentro de meia década os seropositivos podem vir a controlar o vírus da sida através desta vacina, deixando assim de necessitar de tomar medicamentos durante toda a vida.

“É difícil de dizer, mas talvez seja um esforço de quatro ou cinco anos” declarou hoje à AFP Françoise Barré-Sinoussim, à margem de uma conferência de imprensa em Estocolmo onde na próxima semana vai receber o prémio.


Os jornalistas questionaram imediatamente se aquele não seria um prazo demasiado curto. Mas a francesa respondeu que “há dez anos que estamos a trabalhar nisto”, sublinhando que é mais fácil desenvolver uma vacina terapêutica do que uma vacina preventiva (que impeça as pessoas de contraírem o VIH).

Abraço

Eme disse...

A Lídia antecipou-se agora no último comentário. Vinha dar a conhecer a notícia sobre a Nobel de Medicina e creio ser desta vez algo que afirmam com bastante convicção e segurança. O que mais me agrada nesta vacina é a finalidade com que está a ser aperfeiçoada, como terapia e não como prevenção, porque sobre a prevenção já só não se previne quem não quer após tantos anos de campanhas de sensibilização. Creio ser mais urgente apostar nos infectados e na sua praticamente cura a ponto de haver dispensa dos famigerados retroviricos que tanto danificam o organismo.

Que predomine a esperança acima de tudo. E cinco anos passam num instante.

Os impasses seguintes como seja a disponibilidade/acesso do medicamento a todos sem excepção serão provavelmente outra barreira a tranpor.

Abraços

SILÊNCIO CULPADO disse...

M.
Pouco ou nada conhecia sobre a SIDA/HIV antes de me envolver no projecto Sidadania e conhecer pessoas fabulosas como o Raul e o Paulo que, aos poucos, me foram embrenhando nesta problemática para a qual acabei por ir fazendo variadas pesquisas.
E, efectivamente, quanto mais procurava saber mais me convencia que a cura estava para breve. O Raul diz que sou optimista e eu aceito que tem que haver uma boa dose de optimismo para se acreditar num projecto e nos seus resultados. Mas o meu optimismo nunca foi vazio. E cada vez tem mais consistência e tanta que me atrevo a dizer que a vacina terapeutica está cá fora bem antes dos 4 anos preconizados.
Ainda bem que estamos em sintonia no que respeita a noticias frescas sobre a evolução da ciência sobre esta matéria.
Revela que o Sidadania tem um grupo activo e bem acordado para toda a informação que possa recolher e transmitir.


Abraço

R.Almeida disse...

"O menino portou-se mal e apanhou SIDA. Vai levar uma pica para ficar bom."
Sempre será uma maneira melhor de darem a noticia da infecção pelo HIV, do que aquela que me foi dada pelo ???Médico??? que me informou da infecção.
Antevendo a vacina terapêutica acho que este tema dará um bom conto para ser publicado num excelente post,a ser escrito por mim ou por alguém que eu ache que tem um jeitinho especial para escrever contos, e no qual eu delegue a tarefa. O que acham os meus ilustres amigos?
Beijos, Abraços e muitos sorrisos

SILÊNCIO CULPADO disse...

Raul
Não sou ilustre mas acho bem. E quanto a jeito para contos ninguém como tu. É que tu tens uma ironia fina que dá um sabor especial áquilo que escreves.
Porém quando a vacina terapeutica for uma realidade quem escreve o conto sou eu. E prepara-te para seres o meu herói central.

Abraço

sideny disse...

Acho que devem sim contar o tal conto.
Como gostava de levar essa pica e ouvir a seguir, pronto esta curada.
ando a sonhar :))

mariam [Maria Martins] disse...

Silêncio,
acabei de ler o post infra, e aqui estou também,
obrigada por divulgar estas faúlhas de esperança! não tenho SIDA, sou dadora de sangue, mas sou solidária com a causa e "torço" também para que em breve haja vacina. vai haver!

um sorriso :)
mariam

SILÊNCIO CULPADO disse...

Sidney
Hás-de levar a pica e ouvires que estás curada. A cura é já, em minha opinião, uma certeza. O tempo que demora é que não sabemos. Só sabemos que deverá acontecer num prazo máximo de 5 anos.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Mariam

Para que eu divulgue estas faulhas de esperança tenho que ter bases consistentes que só a ciência pode dar.
Efectivamente respira-se um clima de expectativa e aguarda-se o momento em que a vacina terapeutica será anunciada.
Não acredito que alguém com as responsabilidades dum Nobel se atrevesse a criar expectativas sem ter certezas. Os cientistas são prudentes e, frequentemente, são negativistas para não criarem falsas esperanças.
Não tenho sida mas torço por todos os que estão infectados e terei uma enorme alegria quando souber que o HIV deixou de ser papão.

Abraço

Maria Dias disse...

Olá meus companheiros de jornada...

Meus pensamentos voam juntos com os seus(que seja enfim encontrada uma vacina para cura).Todos esperamos a cura.

Um forte abraço

Maria

Branca disse...

Passo de novo para comungar desta festa de esperança e saio feliz e divertida pelo fino humor do Raul.
A acontecer, a vacina será uma grande vitória da humanidade, porque a todos nós diz respeito.
Ficamos à espera.
Beijinhos para todos.
Branca

ManDrag disse...

Salve! Tutti

Boas notícias!
Tudo boas notícias que a nós nos dão alento e esperança de ver os nossos entes queridos redimidos duma falta que não lhes cabe.
Mas quando chegarão essas notícias e as suas vantajosas consequências aos milhões de infelizes que diariamente vivem num inferno, por esse mundo fora, pelo simples facto de carregarem o fardo de estarem contaminados pela SIDA em países sem assistência médica, nem recursos para os custos desmesurados duma medicação que por tal lhes é negada?
A minha alegria por vós é tão intensa quanto a minha dor por eles!

Abraço.
Salutas!

SILÊNCIO CULPADO disse...

Maria Dias


A cura vai ser encontrada no curto prazo. Diferentes linhas de investigação confluem no mesmo sentido. Eu acredito e quero comemorar com o Paulo, com o Raul e com a Sidney bem como com todos os que torcem pela causa.


Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Brancamar

Amiga, disseste tudo: "a vacina será uma grande vitória da humanidade, porque a todos nós diz respeito."

Bem hajas.


Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

ManDrag

A tua força positiva sente-se na esperança que pões nas tuas palavras.
Também sinto uma inquietação pela injustiça que impedirá que os diferentes estádios de evolução do combate à doença até ao da cura, se façam ao mesmo ritmo e nas mesmas condições em diferentes sociedades e estratos sociais.

Abraço

Å®t Øf £övë disse...

Lídia,
Bem sei que ainda não é o suficiente, mas a verdade é que a ciência tem dado passos seguros que nos irão levar certamente à cura do HIV. O que é preciso é acreditar e manter a esperança.
Beijinhos.