Casado à Força

Chegou de surpresa, não sentia qualquer atracção por ela e longe de mim o pensamento de criar uma relação mesmo curta com ela. Pensar em casar com ela e ter uma vida a dois era algo impensável.
No entanto o amor tem os seus estranhos caminhos e aconteceu. Uma gravidez imediata e outra e mais outra e sem quase notar de um momento para o outro estava cheio de filhos. Tentei o divórcio de imediato, para me ver livre dela mas sem sucesso. Senhora Insaciável Desejando Amor, passou a fazer parte da minha vida. Tirou-me a liberdade e seguia-me para todo o lado, qual lapa agarrada à rocha que não descola mesmo com o bater das ondas do mar agitado.
Quis viajar e ir viver para outro país, mas o problema dos filhos e de como os sustentar era o grande problema, e tinha a agravante que ela seguia-me para onde quer que fosse. Aqui sempre tinha o subsídio de alimentação que cobria o sustento da filharada. Emigrar para outro país com aquela catrefada de filhos era impossível pois não tinha capacidade económica para os alimentar e os países de acolhimento não estavam dispostos a sustentá-los.
Ela, continuava presa a mim e ameaçava-me de morte se pensasse em deixá-la. Comecei a odiá-la com todas as minhas forças. Nada adiantava para me ver livre dela e os anos foram passando e a sabedoria popular que diz que quando não conseguimos combater o inimigo o melhor é juntarmo-nos a ele.
Nesta convivência em que eu queria ver-me livre e não conseguia, comecei a conviver com a família dela. Tinha muitas irmãs, era uma família numerosa. Todas as irmãs eram iguais no que diz respeito a subjugarem os maridos e todas elas com muitos filhos. Fiz amizade com os meus cunhados e íamos contando a vida uns aos outros. Uns tinham uma relação com as mulheres piores do que a minha, outros uma relação não tão conflituosa mas o certo é que todos detestavam as suas companheiras. Tinham o mesmo problema que eu e não tinham hipóteses de quebrar a relação quando tentavam fugir das mulheres elas perseguiam-nos para onde quer que fossem e ameaçavam-nos de morte e o incrível é que estas ameaças eram sérias.
Com a ajuda destes amigos com quem convivia, a minha relação melhorou bastante. Ajudávamo-nos uns aos outros para que a nossa relação fosse mais suave e pacífica. A pouco e pouco comecei a ter alguma liberdade e uma vida mais alegre. Convenci-a a tomar a pílula e assim evitar mais filhos.
Contudo e porque havia mais irmãs solteiras, arranjámos maneira de ir avisando os incautos namorados para evitarem qualquer relação com essas irmãs e protegerem-se para que elas não ficassem grávidas. Divulgamos as iniciais dos nomes delas, S.I.D.A. ; A.I.D.S. para que possam estar atentos.
Elas são mesmo terríveis e uma vez que se estabelece uma relação essa relação é para a vida. Temos esperança que um dia apareça uma lei que nos permita o divórcio mas até lá cuide-se e tenha medo… tenha muito medo.
No entanto se entrar para a família será recebido de braços abertos, e estaremos prontos a ajudá-lo a ter uma convivência mais feliz nessa indesejável relação para a vida.

14 comentários:

Maria Dias disse...

Nossa Raul!Que texto bem bolado...Muito criativo!No início achei até engraçado mas o final é amargo a realista.

Parabéns por sua criatividade.

Abraços em todos

Maria

SILÊNCIO CULPADO disse...

Raul
Um texto metafórico com imensa piada e aquela ironia amarga que é frequente em ti.
Realmente casamentos forçados alimentam tensões que levam ao desejo de extermínio do parceiro.
Amante como sou da liberdade aflige-me a ideia de algo com que somos obrigados a conviver, a cada instante de vida, pese embora os artíficios que se desenvolvem para garantir uma coexistência pacífica e logo a sobrevivência.
Espero que um dia te divorcies dessa relação asfixiante e que os novos caminhos que a ciência abre te proporcionem viver, sem esse jugo tirano, uma nova e madura fase da tua vida.
Abraço

sideny disse...

raul
no princio do texto, fiquei assustada.
o raul casou e tem tantos filhos nao sabia.
mas eu nao lhe chamo casamento mas um raio dum amigo,ranhoso ,chato e um grande melga, que nao nos larga:))
beijocas

Eme disse...

hehe
demais, até me enganaste, já andava a pensar que havia por aí uma população numerosa descendente de Raul Rudoixis, ehh valentii..
olha, manda-a vir ter comigo, não sou grande resistente mas com o que tenho trato-lhe da saúde, por umas horas claro. até te esqueces que existe :)

beijos

navegadora disse...

Excelente texto, mistura de prisão com liberdade de pensamento, com esperança e principalmente com acolhimento para aqueles que pelos mais diversos motivos caem nas garras da Sida. Um abraço e parabéns.

f@ disse...

Olá Raul,
Brilhante teu texto... e como tocas duma forma especial em tantos aspectos interessantes...
beijinhos das nuvens

R.Almeida disse...

Maria Dias
bem bolado...gostei da expressão.Embora seja contra acordos ortográficos e linguisticos,adoro o geitinho das expressões do português do Brasil, não prescindido da forma do português de Portugal.É linda a forma como uma lingua se adapta às necessidades de expressão de um povo e nisso vocês são campeões,pois o nosso conservadorismo não nos deixa por vezes aproveitar expressões lindas que o povo usa. Beijo grande
Lídia
Se atrás fiz referência à beleza da lingua,não posso deixar de te dar os parabéns pela forma bonita e elaborada como te exprimes em português de Portugal.Tens um geito muito teu e bonito de escrever.Aguardo ansiosamente a promulgação da lei do divórcio pilulatico,para me libertar do jugo da SIDA. Um abraço do tamanho do mundo.
Sideny
Amigo ranhoso e melga, não tenhas dúvidas.Um dia festejaremos a nossa libertação se tivermos tempo e não estivermos demasiado ocupados a trabalhar na fábrica de fazer tijolo. Um Beijo enoooorme e chupaaaaado.
M.
Não esperas pela demora, eu levo-ta pessoalmente e depois quero ver se não é publicidade enganosa :)
Um beijo grande i inormiiiiii.
Navegadora
Obrigado pelas palavras.Uma prisão sem grades nem portas, que melhor fora pudessem existir para as serrarmos e fugirmos para a liberdade.Um abraço
F@
O meu toque é sempre especial, quer seja entre flocos de algodão nas nuvens ou fora delas.O brilhantismo está em ti e na forma da tua amizade. Carradas de beijos, tal qual chuva de verão que nos lava a alma molhando-nos o corpo.

Biby disse...

Olá Raul!
O post está muito bem escrito como sempre!
Acredito que um dia haverá "divorcio" provavelmente litigioso!heheheh
Hoje deixo-te um beijinho especial para ti...e muita força para aguentares essa "malvada esposa"

Maria Dias disse...

Raul...

Agora me fez rir novamente, porque as vezes esqueço-me do português de vocês sempre tão correto.Sempre que falo com um Português tento usar ao menos o nosso Português como deve ser na integra, mas quando me sinto à vontade não adianta(as palavras acabam por escorregarem...rs...).

Bem bolado=bem feito,bem inventado,bem criado.E nisso és muito bom!

mil desculpas...rs

Fatyly disse...

Simplesmente fabuloso e vale por mil campanhas das que não produzem efeitos nenhuns.

Parabéns e vai aparecer essa lei para o divórcio!

Um abraço

Nuno de Sousa disse...

Boas amigo paulo se me permitires usar essa palavra, já te conheço de outras alturas mas tens razão do que dizes da nossa amiga e queria M. ela é mais que isso, é uma pessoa como poucas neste mundo e temos sorte de ter uma amizade na nossa vida como ela.
Tu também és um grande ser humano nunca te esqueças disso...
Afinal... pessoas como tu que lutam, sofrem e fazem o que fazes, são poucas, e tu és um grande ser humano.
Um forte abraço amigo,
Nuno

R.Almeida disse...

Biby
Obrigado pelas tuas palavras e vamos esperar que sim. Eu tenho esperança
Maria Dias
Eu exijo que te sintas sempre à vontade e escorrega sem cair à vontade. Escreve com o teu geitinho que eu gosto
Fatyly
Aguardamos a tão esperada e desejada cura. Obrigado pelas tuas palavras e sobretudo pela amizade que nos dedicas.
Nuno
Faço tuas as minhas palavras em relação ao Paulo, ou melhor o contrário e acrescento que além de grande é gordo :).
Abraços e beijos distribuidos em conformidade com o género.

lisse disse...

Fascinante, a maneira a um tempo irónica e bonita, com que falas do que te escraviza...
Que bom foi descobrir-te e ao Paulo que desde a primeira vez me ficou no coração.
Queria pedir desculpa pelo meu silêncio, mas sempre tenho estado por aqui e com a mesma admiração e afecto.
Agradeço, a quem permitiu que vos conhecesse...

O meu abraço

R.Almeida disse...

lisse
Obrigado pelas tuas palavras.
Acho que o previlégio é meu e do Paulo, pois temos encontrado pessoas maravilhosas através do blogue. O mais importante não é estarmos sempre presentes embora isso seja gratificante para nós, mas sim termos a certeza que há pessoas que gostam de nós tanto quanto gostamos delas e que estão ao nosso lado incondicionalmente sempre que precisamos delas.Um abraço do tamanho do mundo.