Campanhas de Prevenção

Embora pouco visível pois poucas vezes vai para o ar, tive a oportunidade de ver pela segunda vez na televisão (no espaço de algumas semanas) um dos anúncios que faz parte da campanha contra a infecção pelo HIV da coordenação nacional de luta contra a SIDA, que agora mudou de nome, deixou de ter um número de funcionários que lhe permita fazer um trabalho que tenha impacto na sociedade portuguesa e ainda baixou de estatuto, passando a estar dependente do alto comissariado para a saúde, talvez devido à pouca importância que o actual governo dá à problemática da SIDA.
Como o anúncio, trailler ou o que lhe quiserem chamar me deixou com uma impressão negativa e para não ser injusto, decidi fazer uma pesquisa no “youtube”para o poder visionar de novo e fazer a minha apreciação sobre o mesmo.
O anúncio a que me refiro é aquele em que aparece o Victor Norte, e a cena desenvolve-se em irem para a cama ele com um preservativo e ela com uma quantidade enorme de preservativos, talvez para mostrar que faz sexo em série como se de uma linha de produção industrial de “Quecas” se tratasse. Depois aparecem as tomas de comprimidos pelo infectado, as seringas a tirar sangue e um tipo muito magro e cheio de feridas no corpo.
Embora ache que é necessário fazer campanhas que tenham impacto e alertem as pessoas, não posso de maneira alguma gostar deste anúncio, que mais me parece uma réplica daquilo que se via na televisão há mais de 20 anos, em que apareciam cenas de internamento em que os doentes estavam isolados e os prestadores de serviços de saúde envergavam fatos, que se pareciam com os usados pelos astronautas, para que a doença não lhes fosse transmitida, imagens essas que fizeram um trabalho excelente no que se refere ao estigma, exclusão social e descriminação de todos os infectados e que se mantém até aos dias de hoje, mesmo com toda a informação disponível acerca da forma como o HIV se transmite.
Não sei quem foi o autor do anúncio e quem o aprovou para ser mostrado numa campanha nacional (o que demonstra falta de sensibilidade e desrespeito para com os infectados), mas sinceramente não gostei e acho que em nada vai contribuir para evitar novas infecções antes pelo contrário poderá ser um incentivo a novas infecções para aqueles que se o seu parceiro/a tiver um bom aspecto podem concluir que o mesmo não está infectado e não há necessidade do preservativo.
Na mesma pesquisa vi um outro anúncio feito com desenhos animados em que os preservativos tomavam a forma de gente e se manifestavam contra a falta de trabalho, finalizando com o slogan “dê trabalho a um preservativo”.
Este anúncio, em conjunto com uma campanha de outdoors poderia ter um impacto na nossa sociedade e levar muitos na altura de uma relação casual dizerem para eles mesmos: - Deixa lá dar trabalho a este gajo (preservativo).
Infelizmente, ainda não o consegui ver emitido em qualquer canal de televisão nem exibido em outdoors nas nossas cidades aproveitando a ideia da animação televisiva, que serve de “teaser” ou “motor de arranque” para que o mesmo fique registado nas mentes daqueles que gostam de dar umas quecas com parceiros/as que não conhecem muito bem.
As campanhas incentivando ao sexo seguro usando o preservativo, podem dar os seus frutos se forem bem estruturadas, e se a massa cinzenta e a criatividade forem usadas, sem que as mesmas tenham que obrigatoriamente impor um clima de medo e levem à descriminação e exclusão daqueles que infelizmente já nada podem fazer para evitar a infecção pois são vítimas de campanhas anteriores que não passaram a mensagem, pois se isso tivesse acontecido possivelmente não estariam hoje do lado de lá do muro que separa os infectados dos não infectados.
Necessitamos de campanhas de prevenção e quanto mais melhor, mas sinceramente campanhas como esta “não obrigado…”.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá meu caro,

Peço desculpa estar a incomodar mas considero saber um pouco da sua historia pelo que li noutros locais e venho lendo aqui.
Gostava de ler algo sobre alguem que tenha tido relações desprotegidas com pessoas sabendo que contem o HIV e poderia estar a transmitir... será que poderá relatar algo que tenha conhecimento?
A minha ideia é organizar ideias e reflectir um pouco sobre essa barbaridade visto ser um problema bastante dificil/facil de lidar/evitar.
Um grande abraço e continuação

R.Almeida disse...

É complicado responder à sua pergunta mas vou tentar.Os casos mais falados são de trabalhadores/as do sexo que por mais dinheiro fazem sexo sem protecção. Conheço casos de casais ambos infectados que não usam preservativo por opção.Outros em que um dos parceiros depois dos preliminares não quer o preservativo e outros ainda que procuram pessoas infectadas para terem sexo porque isso lhes dá uma excitação extra.Um dos casos depois da relação sexual com alguém infectado, vai aos hospitais pedir a profilaxia PEP e passa a tomar retrovirais durante um mês.
É comum o sexo oral não protegido por estar definido o seu baixo risco de transmissão do virus. Outro factor,que os médicos têm receio de admitir e de dizer que é de baixo risco são os portadores com cargas virais indetectáveis durante periodos longos,referindo apenas que quanto maior for a carga viral maior é o risco.A interrupção do coito antes da ejaculação, é vista também como um factor de minimização de risco.De qualquer maneira a protecção numa relação sexual cabe tanto às pessoas infectadas como às não infectadas.Caso não esteja infectado e tenha uma relação casual diga ao seu parceiro antes da relação: Temos de usar preservativo pois eu tenho SIDA .
Depois conte como foi,pois acho que seria no minimo curioso.
Um abraço