HIV - Prognóstico de uma vida saudável


O diagnóstico HIV positivo constitui a má noticia, provavelmente a pior noticia, a mais má de todas as noticias que alguém pode receber. O mundo desaba, instalam-se as trevas, os dias morrem à nascença, e a vida deixa de fazer sentido. É a crónica da morte anunciada, como já aqui tive oportunidade de vos relatar. Pelo exposto, o título deste pequeno texto parece contraditório, na medida em que, o HIV não é, à partida, nem à chegada sequer, um prognóstico de uma vida saudável. No entanto, e após o encaixe da má noticia, que demora certamente o seu tempo, começam a surgir as boas noticias. O HIV é tratável, os medicamentos são eficazes, e habituamo-nos a viver com ele, quase sem darmos por ele. Contudo, o diagnóstico precoce é sempre o mais desejável. Aproveito para apelar a todos, que hipoteticamente possam pensar na possibilidade de terem contraído o HIV, para efectuarem imediatamente o teste de rastreio. Se negativo, óptimo, se positivo, óptimo também, no sentido de obter ajuda em tempo útil e de seguir em frente. Combater o HIV antes do mesmo fazer estragos consideráveis no nosso sistema imunitário, é meio caminho andado, para o prognóstico de uma vida saudável. O HIV controlado, não tem sintomas, não nos faz sofrer e os efeitos secundários da medicação são cada vez mais toleráveis e podem mesmo ser de alguma forma contornados. Viver com o HIV é em muito semelhante ao viver sem o HIV. Não pretendo com esta mensagem, fomentar a possibilidade de contrair o virus, obviamente, mas, a quem, infelizmente já o contraiu, a minha pretensão é a de fomentar, agora sim, a possibilidade de desfrutar de uma vida saudável, não permitida muitas vez, por muitas outras doenças, que também existem e em grande número e que todos os dias fazem vitimas no mundo inteiro. Dia após dia passamos a gostar mais de nós próprios, passamos a cuidar melhor de nós, algo que, muitas vezes não o faziamos, antes do diagnóstico, pela vida fora, por variados e diversos factores, tais como, o stress, a correria do dia a dia, o lufa lufa no emprego, as ambições desmedidas por coisa nenhuma, enfim, a lei da sobrevivência a que tomos, de uma, ou de outra forma, estamos sujeitos, e na qual acabamos por nos rever e submeter até. Passamos a ter uma alimentação saudável e a horas certas, passamos a dormir as horas necessárias para que o nosso organismo se restabeleça, se fumamos, tentamos deixar de fumar, se bebemos, tentamos deixar de beber, passamos a ser mais responsáveis, visando sempre e imperitivamente uma boa qualidade de vida e a mesma é possível. Quanto a nós mesmos como seres humanos, a mudança é notória, abdicamos do egoísmo, abdicamos de olhar apenas para o nosso umbigo, começamos a ser mais sinceros, connosco e com o próximo, passamos a sentir necessidade de ajudar quem precisa de ajuda, enfim, tornamo-nos solidários e muito, muito mais humanos. Deixamos também de dar valor a coisas sem valor, deixamos de nos preocupar por coisas mesquinhas, por coisas sem interesse para nós e para o mundo, e começamos por valorizar única e exclusivamente tudo aquilo que realmente constitui valor, nesta vida efémera. Por tudo isto, e até por muito mais, o HIV reformula-nos enquanto pessoas, ajuda-nos a cuidar de nós por fora e faz-nos crescer por dentro e a vida começa a fazer mais sentido. A todos vós companheiros, infectados ou afectados pelo HIV, que, tal como eu, (ainda) sofrem desmesuradamente ao abrigo desta infecção, pensem um pouco no que vos acabo de transmitir. Não há prós nem contras na infecção por HIV. Há sim, que pensar, que a infecção por HIV nos faz abrir os olhos e nos permite ver que ainda estamos muito a tempo de conquistar a felicidade, e esta é sim dos maiores prós que poderemos atingir, para minimizar e neutralizar até, aquilo que até aqui, consideramos como contras, provocados pela infecção. A partir de agora, sigam em frente, façam amigos, que desta vez serão efectivamente verdadeiros, e façam o favor de serem felizes.

Abraço,Caloiro

1 comentário:

Anónimo disse...

Faço minhas as palavras do Caloiro. Não em relação ao HIV, mas em relação ao cancro.

No fundo, suspeito que seja em relação ao que nos leva ao limite da vida. Regressamos de lá maiores, não é?

Manuela