Dê-me um Abraço

Não trago vestida a tshirt com a inscrição "Dê-me um abraço". Esta inscrição trago-a na alma, impressa a bold, em todos os dias que passam. Olho para as pessoas na rua e em surdina peço-lhe um abraço, apesar delas não me poderem ouvir. Se me ouvissem, será que me abraçariam? Quem sabe, quantas o fariam. A cada abraço que recebesse, mais forte me tornaria no combate a esta infecção, isso tenho a certeza. Presentemente na minha alma existe o medo, o medo do prognóstico, o medo da exclusão, o medo do estigma e a suplica de muitos abraços que gostaria de receber. A cada abraço recebido, um destes medos seria decerto minimizado. E se todos os medos desaparecessem, o prognóstico seria decerto melhor, mais bem tolerado e mais duradouro. Em todas as desgraças que nos acontecem na vida, se existirem braços abertos prontos a abraçar-nos, muito poderá ser superado, e deixaremos de necessitar de esconder o que nos atormenta, de vivermos sob artimanhas e de ficarmos reclusos de nós mesmos, por tempo indeterminado, ou provavelmente por toda a vida. Assim, de braços cruzados, peço braços abertos que me queiram abraçar. Para que tudo isto seja possível, para que tudo isto possa sair da utopia, é necessário que se comece a encarar a infecção pelo vih, como uma infecção viral crónica, tratável, em que todos poderemos mais cedo ou mais tarde, ser mais uma vitima deste virus hediondo, que teima em resistir e não se deixar apanhar. Lá chegaremos, um dia, a essa grande conquista. Culpabilizam-nos pela infecção vih, porque não nos soubemos proteger, porque fomos promiscuos, porque não nos abstivemos. Chamam a esta infecção, uma doença de comportamento. No entanto, as neoplasias causadas pelo consumo do tabaco, não serão também uma doença de comportamento? Os acidentes vasculares cerebrais, os enfartes do miocárdio, os ataques cardíacos, não serão doenças causadas pela sociedade em que vivemos, causadas pelo comportamento de quem nos mantém todos os dias em stress profundo, para que possamos sobreviver? Refiro-me aos gigantes deste planeta. Lembro-me também daquilo a que chamam opções sexuais, que a meu ver, são tomadas pelas pessoas que as tomam, ainda antes do seu nascimento, pelo que poderão ter todas as designações, menos opções. As opções tomam-se em consciência. Não nascem connosco, nem fazem parte da nossa essência inata. Por tudo isto e até por muito mais, vamos pôr de lado a hipocrisia e deixar de apontar o dedo. Os dedos deverão a partir de agora estar apontados em conjuntos de cinco, em mãos abertas e levantadas, prontas a abraçar quem precisa de um abraço, ou de muitos até, em todos os momentos da nossa vida. Estou certo que ajudaremos a poupar muitas vidas, que morrem interiormente muito antes da sua morte fisica. Lutemos juntos por cada um de nós, para que cada um de nós esteja sempre pronto a lutar por muitos, por todos aqueles que necessitem a cada momento da sua vida. Eu, permaneço aqui, à espera dos vossos abraços que me fazem tanta falta neste momento, com a certeza de que tenho ainda, e espero continuar a ter, muitos abraços para vos retribuir, sempre que deles necessitem. Assim, seremos humanos, fortes e coesos, e quem sabe até, indestrutiveis. Pensem nisto, como eu penso, e esta atitude mantém a minha dignidade enquanto ser humano deste planeta a que chamaram outrora, de planeta Terra. Presentemente, o planeta Terra, é já uma réplica perfeita do planeta Marte, pela desumanização com que se vai vivendo neste mundo em que todos habitamos, ainda que e apenas, sob a forma de sobrevivência irracional.
Caloiro
Nota: O meu Abraço já tu tens, e quando a tua mente te permitir olhar com clareza à tua volta, vais ver uma grande fila de pessoas esperando a sua vez para te poder abraçar também.

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