Dia de São Hospital


Hoje foi dia de S. Hospital, não porque sentisse qualquer dor, tivesse alguma consulta ou fosse fazer algum exame. O meu stock de bombons retrovirais estava a esgotar-se, e a gulodice dos meus bichinhos HIV, tem de ser satisfeita com estes docinhos e eu não quero que lhes falte nada. Tirei a minha senha vi em que numero ia e a coisa até não estava má só tinha 23 á minha frente.
Fiz os meus cálculos e tinha entre uma a hora e meia de espera . O Dia estava lindo o hospital tem espaços verdes e resolvi dar uma voltinha pelo exterior. Tinha também a data de uma colheita de sangue para alterar, mas isso é coisa simples pois o sistema está informatizado e a operação é relativamente rápida.
Fui atendido quase de imediato, só estava uma pessoa a acabar de ser atendida e outro a pedir uma informação qualquer, e disse á senhora o que queria, que a data para a colheita tinha de ser alterada, pois na minha desocupada agenda logo por azar foi calhar num dia em que estou indisponível para tudo excepto para o que irei fazer.
-Está lento.... hoje isto tá muito lento
Eram as palavras da funcionária, que batia em teclas e mais teclas até ter o ecrã pretendido com as vagas disponíveis para uma data anterior , num e noutro laboratório já que tiram o sangue somente uma vez e este depois é enviado para outro serviço de análises especificas como é o caso das cargas virais. Valha-nos pelo menos o bom senso de nos picarem, uma só vez ou de outra forma ficaríamos como um pimenteiro. Picarem uma vez não é bem assim, embora algumas vezes aconteça, mas pelo menos é apenas uma colheita. Enchem uma seringa garrafão com o tinto e depois vazam-no para as garrafas que vão ser consumidas pelos diversos reagentes que depois nos reportam o resultado das “bubas” que o nosso produto lhes causou.
Finalmente a impressora lá despejou o papel com a nova marcação. A funcionária administrativa estava toda sorridente e bem disposta e fui bem atendido.
Ainda com tempo de sobra para ir á confeitaria dos bombons, que tinha muitos clientes para atender antes de mim, descontraidamente fui-me passeando pelas avenidas do hospital, vendo as obras até que finalmente passei frente á farmácia e fui ver como estavam as coisas, faltavam apenas 4 pessoas para chegar ao meu numero e isso iria consumir um tempo tolerável de espera e decidi aguardar. Não demorou muito e a gente encontra sempre alguém para conversar ou porque já conhece ou porque as pessoas sentem necessidade de comunicar sobre qualquer assunto que se está a passar.
A Farmacêutica pareceu-me estar feliz e estava sorridente perguntei-lhe se o dia estava a correr bem, pois é hábito por vezes haver alguns episódios caricatos com utentes, que tiram a paciência a qualquer um e que não compreendem por mais que lhes tentem explicar esta ou aquela situação. Até me estava a dar medicamentos a mais, pois eu por opção terapêutica minha, de uma certa marca tomo um comprimido a menos por dia em prejuízo da conveniência de duas tomas diárias por três, pelas quais eu optei.
Menos conveniência nas tomas dos medicamentos, vantagens para o meu fígado em questões de toxicidade pois poupo-o da carga de 30 comprimidos em cada mês que passa, e se calhar até pode ser que o senhor ministro da saúde (poupanço-dependente) se aperceba disto e me nomeie o “Doente do Mês”, pois nisto de gestão temos de imitar as cadeias de fast-food americanas que nomeiam sempre o empregado do mês, com direito a fotografia e moldura colocada em lugar bem visível em todos os hospitais do País .
Enfim um dia lindo maravilhoso, sol e temperaturas agradáveis, as pessoas sorridentes e felizes, vamos ver o que o resto do dia nos traz de bom ou mau para transformar o dia de hoje em perfeito ou imperfeito. É que á semelhança das capelas imperfeitas do mosteiro da Batalha, mesmo os dias imperfeitos têm algo de bom.

2 comentários:

Zé "Prisas" Amaral disse...

Aqui temos uma pequena "vantagem"; os que necessitam de "comer" alguma coisa para o tratamento a que estão sujeitos, os "predicados" estão estão sempre na casinha dos cuidados.
Complemento directo aplicado e lá voltam eles ao retiro sem terem tido uma longa espera.

Pena que alguns deles não possam ver espaços verdes ser ser do alto do Palacete. Mas como dizes, os dias imperfeitos, ou vidas acrescentaria eu, também têm coisas boas.

Esta possibilidade de te lerem é uma delas.

Cuida-te.

R.Almeida disse...

poix... e eu preciso de ter feed-back se a comida prós bichos e o resto não falta. Tenho sabido que por exemplo em relação ás hepatites há problemas. É que tenho uma fome imensa em saber certas coisas, para poder movimentar-me.
E como só quem está no convento sabe o que lá vai dentro, vamos ouvindo a voz dos frades e dos confrades.
Tenho tanta coisa para dizer mas não sei se posso. Não por mim mas por vós como deves compreender melhor do que ninguém.
As precárias e as condicionais lá nos vão mostrando o filme,nós outros na prisão da vida lá vamos tentando mudar o guião da novela.
Um abraço