Lipodistrofia. O Reavivar do Estigma


A Lipodistrofia define uma distribuição irregular da gordura no nosso corpo, concentrando-se na barriga, seios e na nuca. O rabos redondinhos desaparecem, mais parecendo tábuas de engomar, as pernas e braços ficam delgados e o rosto com covas profundas. As veias parecem estar logo por baixo da pele ficando salientes.
Para além do aspecto estético e do mau estar causado por um corpo disforme, a lipodistrofia aumenta os níveis de colesterol e triglicéridos, pode provocar diabetes e também insuficiência hepática além de ter ligações a acidentes cardio vasculares.
A lipodistrofia é um entre muitos efeitos colaterais, sofridos pelos doentes infectados com o HIV, que tomam medicamentos retrovirais .
Em alguns países, para além dos cuidados de saúde relacionados com a terapêutica anti-retroviral, há apoios para enchimentos faciais e até mesmo cirurgia plástica.
No nosso país (Portugal), o nosso serviço de saúde não tem qualquer apoio a este tipo de intervenções ou outras relacionadas com este efeito colateral, nem mesmo no fornecimento de medicação para o colesterol ou para outras patologias relacionadas com estes efeitos do tratamento.
Os retrovirais mantêm, os infectados pelo HIV vivos, e isso é bandeira de qualquer governo que orgulhosamente apregoa que o tratamento é suportado pelo estado e que os infectados não têm encargos com a doença. Ninguém sabe o que é ter corpo e alma moldados pela infecção ao longo dos anos de sobrevivência com os retrovirais e ninguém se preocupa com isso. Em breve, a discriminação de que somos alvo (e discriminação não é coisa do passado, como muitos teimam em afirmar), vai aumentar devido á lipodistrofia e o estigma ao HIV vai estar de novo em destaque, devido ao cartão de visita que é o nosso corpo, tal qual uma tatuagem na testa com a palavra SIDA. Sobrevivemos, mas as condições em que vivemos só são conhecidas por aqueles que vivem o seu dia a dia com o vírus e com os tratamentos que não curam mas vão mantendo o VIH controlado.
É comum ouvir-se falar de tentativas de suicídio, especialmente nos infectados mais jovens, depressões profundas, pessoas que não saem á rua e se isolam por terem vergonha do seu corpo. Existem casos de pessoas que abandonam a medicação, na esperança de recuperarem os contornos dos seus corpos, e só a retomam quando realmente estão novamente bastante mal.
O desenvolvimento de resistências aos retrovirais é uma realidade, e o reinicio da terapêutica terá de ser feita com novos medicamentos muitíssimo mais caros e será um encargo extra para o serviço de saúde. Ver a lipodistrofia e as doenças associadas com outros olhos seria um incentivo a uma melhor adesão por parte dos doentes ás terapias retrovirais, e não pode ser vista como um gasto extra no tratamento destes doentes.
Contudo e porque não há solução á vista (no nosso país), vamos tentando minimizar estes efeitos do cartão de visita seguindo uma dieta rigorosa , sem gorduras nem carbohidratos , e fazer muito exercício físico. Ginástica, precisamos dela como do ar que respiramos.
Hoje com toda a certeza podemos afirmar que nos países ricos (ou no nosso que se quer afirmar como tal), os portadores do vírus da SIDA, já morrem mais de doenças cardiovasculares, do que por doenças oportunistas devidas ao enfraquecimento do sistema imunitário.

3 comentários:

Deva disse...

Injecção de substâncias de preenchimento(Restylane ou DMAE, passo a publicidade) resolvem isso. Deviam ser subsidiadas pelo Estado, nestas circunstancias.Mas, mais uma vez pergunto, o que fazem as associações? Ru2x põe-nas a mexer.Escrever sobre o assunto já é alguma coisa mas insuficiente. É preciso agir!

R.Almeida disse...

Eu também pergunto.Acima de tudo acho que contribuem para a desflorestação do planeta ou será que usam papel reciclado? Eu não posso pô-las a mexer, elas sim viram-se para mim e dizem: põe-te a mexer.

Biby disse...

Se no passado o estigma vinha do Sarcoma de Kaposi (divulgado pelo filme Filadelfia) hoje sem duvida é a lipodistrofia!