Incrustado na amizade e no convívio entre poetas, escritores e gente que se revela genial na arte de colocar o pensamento e a criação no papel, sinto-me pequeno face aos talentos com que me deparo a cada momento.
Gosto de escrever. Um dia alguém me chamou de escrito-dependente. Se estará certo, não sei. Sei que sou adicto ao libertar da mente e se tal é possível na escrita pois então que o seja. É um assumir sem certeza. Uma preguiça crónica no conjugar do físico com a mente, quando tantas vezes o primeiro não se dispõe a gravar no papel, o volátil que o segundo produz. Então perde-se a beleza e o momento. A inspiração que chega parte tão depressa como a carruagem do metro que abre as portas por um instante para no seguinte prosseguir a viagem desaparecendo no fundo do túnel, entre o rugir metálico das rodas nos carris.
Tomo os conselhos, cuido da escrita, acautelo as vírgulas que uso profusamente sem qualquer regra gramatical, agregadas à necessidade de respirar e ao colar do verbo escrito ao oral. Um acasalamento nem sempre em consonância.
Saem palavras nos lampejos de lucidez ou de loucura, numa indiferença em cada dos estágios que não se descobre. Elas projectam o pensamento, marcam, servem de guia a quem as seguir e imortalizam os seus autores.
Quando proferidas, passam. Quando escritas, gravam-se, manobram-se, moldam-se à maneira, tal as pinceladas do pintor ou suave martelar do cinzel do escultor. É verdade que a obra nasce quando se acredita.
De seguida pergunto-me: palavras para quê se uma imagem vale mil palavras? Mas ninguém diz que mil palavras podem ser o filme de uma vida, e não simplesmente uma imagem. O curioso é que até nem sei escrever. Que o atestem os funcionários das finanças na minha dificuldade em preencher formulários. E contudo, escrevo sobre escrita. Terei sido infectado por algum vírus desconhecido que escraviza as pessoas prendendo-as durante horas a uma cadeira e à tela do computador? Não tenciono fazer a prevenção para o VEC (vírus da escrita compulsiva) e este é facilmente transmissível. Não pretendo realizar qualquer teste para me saber infectado pelo VEC. Prefiro a dúvida ou a ignorância. A certeza da infecção é deixar de viver outra vida e escravizar-me à escrita. É o viver face aos seus escritos, às histórias que molda, às emoções que transmite.
E em jeito de “eu pecador me confesso” reconheço que tenho relacionamentos de risco com escritores, poetas, pessoas que escrevem maravilhosamente bem que não se revelam e artistas. Sem qualquer protecção, leio e aprecio as suas obras.
- Por favor doutor, diga-me se estou infectado e se estes sintomas do escrever muito são sinais do vírus?
- Tem de fazer o teste - responde-me, mantendo-me na incerteza atroz.
- Não, o teste não. Não quero. Prefiro sofrer na ignorância os sintomas e ficar preso à cadeira escrevendo durante horas e horas.
É que a sorte dá muito trabalho mas pode acontecer. Acreditar que o homem pode ser o maior sonho dele mesmo, pode fazer a diferença.
21 comentários:
a diferença é em sim mesma já um
R.I.S.C.O!
espero que continue a riscar assim.
peço deferimento.
sentada sobre uma "bolha de ar".
sorriso com abraço.
e sim....reincida nestA "DEPENDÊNCIA."
os seus leitores agradecem. eu também.
re.beijo.
Que continues a corres "riscos" fabulosos como este teu texto!
Beijos
Belo texto.
Quando o Homem quer a obra nasce.
BEM HAJA
Raul
Acreditar que o homem pode ser o maior sonho dele mesmo, faz realmente a diferença. Porque é aí nesse lugar intimo e reservado de cada um, que permanece a força que nos move para a frente, com riscos e r.i.s.c.o.s, rabiscos e escritos de excelente qualidade, como os teus...
É sempre um prazer ler-te!
Oi amigo,
Gostei do que vc escreveu...rs... Escrever,espanta os maus pensamentos sim.Já fui salva de Pânico por conta da escrita q brotava de mim quando nunca imaginei escrever uma.
Beijinhos
Maria
Raul,
Que texto gostoso. Escrever é tão bom! Mas se escrever pode ser considerado um vício, por outro lado escrever não nos escraviza, pelo contrário, nos liberta, nos leva para junto das palavras e delas nos faz íntimos, confidentes. Tantas vezes as palavras que escrevemos nos fazem companhia. Desde que escrevo, nunca mais senti solidão.
Beijos!
re.inscrevo-me neste "risco" de arriscar de novo a palavra mas só para apagar com cinza a cinza do vício de ser dependente da leitura.
.
também eu gostaria de seguir o conselho dos amigos que insistem em me apagar o risco do cigarro :))))
e rodo rodo dentro de uma página em branco.
e releio este risco com um sorriso riscado de ternura.
que é um belo texto Raul.
Um grande post.
E não falo do tamanho.
Forte abraço.
Não tenhas dúvidas, foste infectado por esse vírus especial.
Para grado de uns e desgraça de outros :))))
Tu liberta-te homem, pelo simples prazer de soltar as letras e não para te empoleirares em pedaços de glória. Escrever é falar com o divino. Todo aquele que me sabe surpreender nas palavras, criar prazer em momentos fugazes, proporcionar fugas momentâneas ao sofrer e à rotina, tem a minha admiração. E tanto de ti consigo ler no teu Verbo. Ou tanto espelho de mim.
É só. Porque tenho o cansaço a vencer-me. Continua a respirar.
Beijo
Olá Raul,
Que texto belíssimo!
É um prazer lê-lo, relê-lo.
É portador de um dom, Raúl : o de encantar pela palavra.
Eu sou perfeitamente arrebatada pelo encanto da sua escrita.
Um beijinho muito amigo
Maria
como é que eu nunca cá tinha chegado?
gostei do que cá li e se já encontrou a cura por favor me transmita!
também me sinto entre poetas, entre escritores é um risco que vou correndo defendendo-me nas palavras que antibióticamente me vão curando, ou quem sabe subjugando?!
abraço...
http://www.youtube.com/watch?v=UP9Q8IsN6Ss
Um beijinho, Raul
Belos textos..
excelente texto, amigo, e r.i.s.c.o.s ou não, há que seguir em frente!
um dia aós o outro
beijinhos
Adorei o seu comentário e o seu blogue.
Um abraço
Anad
obrigada Raul pelo "risco" deixado no piano.
abraço.
Para quem acha que não sabe escrever, disfarças muito bem.
As palavras deste texto comprovam que sabes usá-las com toda a qualidade.
E o vício de escrever é muito bom. Desse, também me confesso dependente.
Vim agradecer os doces elogios deixados no Poetas um vo livre.
Volte sempre.
Fiquei muito feliz com a sua visita.
Com carinho
Sandra.
Caro Raul,
Vale a pena ler seus riscos e deixar-se contaminar pelo gosto da escrita.
Brilhante texto, parabéns!
Beijinhos e bom fim de semana,
Ana Martins
Fiz o relatório da minha viagem à Rússia para os meus amigos on-line.
Um bom fim de semana.
Anad
Hoje vim visitar-te...há muito que me deixei de visitas porque além do tempo escassear a saúde também não tem sido a melhor, mas vai-se indo ...
Amei o teu texto .
Aproveito para te deixar este artigo que me chegou ás mãos,apesar de achar que ja tens conhecimento do assunto.
Investigadores norte-americanos desenvolveram um novo tipo de "preservativo molecular" capaz de proteger as mulheres contra o vírus da sida em África e noutras regiões pobres do mundo, segundo um estudo hoje divulgado.
Trata-se de um gel vaginal que se torna semi-sólido em contacto com o sémen, funcionando como uma armadilha que absorve os vírus numa malha microscópica e os impede de infectar as células vaginais.
"O primeiro passo no complicado processo da infecção da mulher pelo HIV (vírus da imunodeficiência humana) é a passagem do vírus do sémen para o tecido vaginal. Queremos parar esse primeiro passo", afirmou Patrick Kiser, professor de bio-engenharia na faculdade de Engenharia da Universidade de Utah.
O novo gel permite às mulheres proteger-se contra o HIV sem o consentimento dos parceiros. Para o investigador, "isso é importante, particularmente em áreas do mundo desprovidas de recursos, como a África subsahariana e o sul da Ásia, onde em algumas faixas etárias o número de mulheres infectadas chega aos 60 por cento".
Nessas zonas, devido a factores culturais e socio-económicos, as mulheres não podem impor aos parceiros o uso do preservativo, assinalou. O estudo, que descreve o gel e a forma como funciona, será publicado esta semana na revista norte-americna Advanced Functional Materials.
Segundo Kiser, principal autor do trabalho, os testes do gel em humanos vão começar dentro de três a cinco anos, podendo chegar ao mercado vários anos depois.
A ideia dos investigadores é incorporar no gel um antiviral para que ao mesmo tempo bloqueie o movimento do vírus e o impeça de se replicar, podendo vir também a ser usado como protecção contra o vírus do herpes e o do papiloma humano, causador do cancro do colo do útero.
A equipa de Kiser está a desenvolver microbicidas para prevenir a sida graças a uma bolsa de 100 mil dólares da Fundação Bill e Melinda Gates. (Expresso)
beijão grande
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