“Obrigado por não me deixarem sozinho.”



Alusivo ao comentário de um Anónimo no post "MÉDICOS COM HIV":

Obrigado por não me deixarem sozinho.


Quem és tu anónimo que aqui veio e muito bem… Um dos médicos infectados? Aliás, que importa? Que importa que sejas médico, engenheiro, politico, um trolha ou até um simples trabalhador braçal que através do esforço físico ganha o sustento de cada dia?

O importante é sentires-te dentro de uma comunidade de pessoas que vivem com o HIV como marca indelével em seus corpos para toda a vida face aos conhecimentos científicos actuais.
Não importa aquilo que sabes sobre o HIV ou o que não sabes. Importante é seres a voz do HIV porque ele faz parte de ti. Importante é que aqueles no meio de quem vives e com quem trabalhas saibam o que é o HIV e que o mesmo tem formas de se transmitir.

Por seres médico e eu trolha não quer dizer que não haja diálogo entre nós.
Para te ser honesto, não sei exactamente o que faz um trolha, mas sei mais ou menos o que um médico faz. Posso ser um canalizador, mas mexer em tubos, cortar e dobrar talvez não esteja a meu jeito. Estabelecer contactos eléctricos, canais de comunicação talvez seja mais ao meu jeito, mas no afinal que importa o que sou quem sou ou que faço?

Nada, absolutamente nada.

Importante é termos algo em comum como uma infecção que vitimou milhões de pessoas em tudo iguais a nós com as diferenças que existem na diversidade.
Cabe-nos a nós fazer alguma coisa pelo hóspede indesejado do qual somos hospedeiros para a vida ou não fazer nada. O estigma e a rejeição social são factores de peso nas nossas vidas e é direito de cada um individualmente decidir se se revela como infectado ou não. E no caso de se revelar, somente onde e a quem quiser.

É importante saberes que não estás sozinho e que pelo menos tens a teu lado uma espécie de trolha indefinido, que talvez saiba de canalizações mas que se acha mais vocacionado para estabelecer canais de comunicação inter-pares e que acredita que um maior envolvimento da comunidade seropositiva nas politicas públicas de saúde e de educação com vista à prevenção é possível se trabalharmos para isso e se a vontade dos decisores políticos for essa, conforme declararam em acordos internacionais.

Para ti anónimo, um abraço.

8 comentários:

Fatyly disse...

Li esse comentário e fiquei a pensar na resposta que deveria dar. Vi apenas uma palavra S.O.S.
Mas não consegui porque como sabes por vezes os meus afazeres atrapalham os momentos de lazer, que é vir aqui, ler, aprender, partilhar, dar as mãos, porque quer aqui quer nos outros blogues teus e da vossa equipe são uma mais valia para quem se vê perdido.

Tenho aprendido muito e já me sinto parte integrante desta "comunidade de infectados e não infectados", mas de pessoas que souberam dar as mãos, acolher de braços abertos a quem aqui procura um bocadinho de "sol" quando o negrume se apoderou das suas vidas.

Raul, fizeste uma "carta de amor ao próximo" e eu, uma simples leiga mas que entende e sempre lutou e luta para que todos os seropositivos, homossexuais, os deficientes, os depressivos, cancerosos,etc. devem ter um lugar na sociedade e com ela todos os seus direitos salvaguardados e nunca descriminados, porque afinal todos fazem parte de uma Nação.

Dói para caramba, sei que não é fácil, tenho ajudado muita gente a encarar o lado bom da vida apesar dos pesares e deveria ser obrigatório "serem dadores de sangue" como eu o sou há 30 anos, para verem nos hospitais o que é estar doente, descriminado e chamar à atenção do que achar de errado.
Anónimo:
subscrevo e assino esta carta do Raul, de facto não estás só e que acredites que neste mundo de cabos há gente de bem e que luta pelo bem estar psicológico de quem sofre em silêncio, daí a minha postura ser sempre a mesma: tem coragem, luta, trata-te, procura ajuda e não carregues esse peso sózinho, porque há sempre alguém que por momentos pegará na tua muxila e diz...p'ra frente é que é o caminho.
Força e para ti anónimo, um abraço e para ti Raul quantos quiseres porque fazes falta:)

Beijos e uma resto de boa noite em LIBERDADE!

SILÊNCIO CULPADO disse...

Anónimo

Sejas tu quem fores e estejas onde estiveres e em que circunstâncias estiveres nunca estarás sozinho. Só há solidão para quem constroi à sua volta "muros e não pontes".
Muitos serão aqueles que te esperam. Mais serão aqueles a quem poderás ser útil.

Abraço para ti e para o Raul o grande lutador da causa.

Anónimo disse...

O que poderei eu dizer. Apenas que tenha coragem, força, e de que, eu que não estou infectado (pelo menos pelas últimas análises de 3 meses) mas que não estou livre. Se um dia o serei? Não sei, só Deus sabe o que reservou para mim, e eu só o terei de aceitar.

Nunca se poderá sentir sozinho, não o estará com certeza, o amigo que escreve este blogue, não o abandonará, bem como toda a comunidade que infelizmente foi infectada por esse maldito HIV.

Presto aqui as minhas homenagens a este blogue e ao seu autor.

Com amizade e fraternidade

Beezz

simplesmenteeu disse...

Deixaste aqui o teu rosto ou o rosto da tua alma.
Vejo-te e sinto-te nestas palavras, "canalizador" da Energia, da Alma e do Amor.

Abraço sentido

Eme disse...

Olha olha o Beeezblogger por aqui, há totil que não via este che guevara como gostava de lhe chamar.

Um abraço ao trolha. Que diabo é um trolha?!

Ao anónimo. Ainda te achas sózinho? Se sim, avisa. E quanto ao trolha, atesto em papel selado e carimbado que é das pessoas mais inteligentes que conheço e que podes depositar nele toda a confiança para te esclarecer em qualquer questão que te incomode ou te cause angústia. E digo-te mais.. ele não teve a oportunidade que estás a ter agora, rodeado de pessoas que te darão suporte psicológico se necessitares. Ele viu-se completamente sózinho após a descoberta da infecção e pelo mesmo meio pôs-se de pé para continuar a VIHver.
Lembra-te portanto: não estás só.

Biby disse...

Mais um excelente post do Raul. Que foca a essencia desta doença: não escolha sexo, idade, religião nem profissão. É uma doença universal e não a doença dos 4H como foi apelidada no inicio da epidemia.
Caro anonimo não estás sozinho. Existem muitas pessoas infectadas que partilham a tua solidão, que sofrem esta doença calados com medo da discriminação, do preconceito.
Não estas sozinho e a luta contra esta doença deve ser feita por todos infectados e não infectados.
Porque não partilhas (mesmo que anonimamente)a tua história!
MUITA FORÇA!
Beijinhos
BIBY (a quase mestra em Infecção VIH/SIDA)

Alexa disse...

OBrigada por deixares um post sinho no meu cantinho é lindo e cheio de força. Sabes porque nao comemto o teu

beijos muito muito grandes
para sempre

Odele Souza disse...

Não nos sentirmos sózinhos faz toda a diferença entre continuar e desistir.

O apoio mútuo, o caminhar de mãos dados, mesmo que virtualmente, nos dá a exata dimensão de como somos poderosos quando estamos juntos. E é muito bom ver e sentir essa corrente de afeto que nos torna a todos mais fortes.

Beijos.