É parte integrante do quotidiano de todos, ouvir dizer que cada um tem aquilo que merece, face a uma respeitável variedade de acontecimentos que a vida vai infligindo no discorrer da sua existência. Pessoalmente, nunca estive demasiado de acordo com a aceitação desta expressão de ânimo leve, porquanto existem muitas pessoas que merecem aquilo que não têm e que muitas das vezes nunca chegam a ter, assim como existem tantas outras que têm aquilo que não merecem, em todos os sentidos da expressão.
O trágico acidente aéreo ocorrido em Madrid há poucos dias, vem demonstrar, que efectivamente muitas pessoas tiveram aquilo que não mereceram, tendo perdido a vida, sem qualquer contributo para o efeito. A morte foi coroada pela inocência de estar vivo, sem quaisquer outros motivos.
A vida resulta de um contorno salpicado de sorte, entre problemas e dissabores, que mesmo que não queiramos, estão presentes na nossa rota, irremediavelmente.
Neste contorno que exteriormente limita a vida, em linha recta deve permanecer o pensamento, quanto à realização dos objectivos traçados, e as sinuosidades serão sempre obstáculos a ultrapassar destemidamente.
Cada um merece a vida, pelo facto de ter nascido e de estar vivo em deveres e em direitos, pelo que, neste sentido, cada um merece a vida que tem enquanto existência real. Articular desmesurada e simplesmente da boca para fora, que cada um tem aquilo que merece, não traduz manifestamente a verdade plausível. A meu ver, é um traço de insânia.
Todos somos e seremos sempre santos e pecadores da realidade construída pelo bater do coração.
A infecção pelo VIH é com magnificência entendida, como o merecimento de quem contribuiu avidamente para a sua contracção. Aqui, a Sida deve ser entendida como parte integrante das sinuosidades existentes, que no momento certo e ultimado, por préstimos que sobrepõem a própria razão e racionalidade, obteve a oportunidade de conquistar mais uma vítima.
Santos e pecadores, mas sempre vítimas, muitas das vezes das nossas atitudes santificáveis ou dos nossos pecados, mas sempre vítimas, porque somos humanos.
Se cada um tivesse aquilo que merecesse, sem que aqui abrangêssemos o acontecimento que traduz o conceito de estarmos vivos, por todo o decurso da nossa existência, a razoabilidade e o meio termo perder-se-iam entre o certo e o errado, entre o bom e o mau, e o sentido único a que estariamos votados, reduziria a vida à total ausência de amplitude humana, em todos os factores que permitem a existência da razão sob a forma de discernimento.
O trágico acidente aéreo ocorrido em Madrid há poucos dias, vem demonstrar, que efectivamente muitas pessoas tiveram aquilo que não mereceram, tendo perdido a vida, sem qualquer contributo para o efeito. A morte foi coroada pela inocência de estar vivo, sem quaisquer outros motivos.
A vida resulta de um contorno salpicado de sorte, entre problemas e dissabores, que mesmo que não queiramos, estão presentes na nossa rota, irremediavelmente.
Neste contorno que exteriormente limita a vida, em linha recta deve permanecer o pensamento, quanto à realização dos objectivos traçados, e as sinuosidades serão sempre obstáculos a ultrapassar destemidamente.
Cada um merece a vida, pelo facto de ter nascido e de estar vivo em deveres e em direitos, pelo que, neste sentido, cada um merece a vida que tem enquanto existência real. Articular desmesurada e simplesmente da boca para fora, que cada um tem aquilo que merece, não traduz manifestamente a verdade plausível. A meu ver, é um traço de insânia.
Todos somos e seremos sempre santos e pecadores da realidade construída pelo bater do coração.
A infecção pelo VIH é com magnificência entendida, como o merecimento de quem contribuiu avidamente para a sua contracção. Aqui, a Sida deve ser entendida como parte integrante das sinuosidades existentes, que no momento certo e ultimado, por préstimos que sobrepõem a própria razão e racionalidade, obteve a oportunidade de conquistar mais uma vítima.
Santos e pecadores, mas sempre vítimas, muitas das vezes das nossas atitudes santificáveis ou dos nossos pecados, mas sempre vítimas, porque somos humanos.
Se cada um tivesse aquilo que merecesse, sem que aqui abrangêssemos o acontecimento que traduz o conceito de estarmos vivos, por todo o decurso da nossa existência, a razoabilidade e o meio termo perder-se-iam entre o certo e o errado, entre o bom e o mau, e o sentido único a que estariamos votados, reduziria a vida à total ausência de amplitude humana, em todos os factores que permitem a existência da razão sob a forma de discernimento.
20 comentários:
Paulo
Há uma frase célebre de Jean Paul Sartre: "O homem pode sempre fazer alguma coisa daquilo que os outros fizeram dele". Ou seja, há uma parte da construção do nosso merecimento que é fruto do nosso esforço, do nosso empenhamento, da nossa caapcidade de resistir. Mesmo nas condições mais adversas há quem tenha produzido obras e percursos invejáveis.
É certo que a vida é um risco e, nesse risco, há uma quota parte de sorte ou de azar mas não nos podemos demitir das nossas responsabilidades.
Quantas vezes ficámos indiferentes à dor alheia só porque não era connosco directamente? Quantas vezes procurámos ignorar sinais só porque essa era a posição mais cómoda?
Mesmo no acidente de Madrid (ou noutros menos mediáticos por não serem aéreos): Quantas vezes nos silenciamos perante esta forma de capitalismo selvagem que arrisca a vida dos outros para ter mais lucro? Quantas empresas põem em causa vários tipos de segurança e de garantias só para reduzirem pessoal e apresentarem resultados? Quantas vezes nos calámos perante situações destas para não sermos notados, conotados e, quem sabe, se despedidos?
Santos e Pecadores, Paulo? Não! Apenas pecadores. Pelo menos eu me sinto assim. Mas que do meu pecado reste sempre alguma consciência e alguma solidariedade que me permita estender a mão, não ser pedra, ser ao menos como um cão que conhece o dono e os afectos.
Esta sociedade fria e egoísta da qual participamos é a responsável pela maior parte dos azares. E nós fazemos parte dela porque, como dizia Brecht, enquanto calha aos outros não é connosco.
Abraço apertado
Aqui na África do SUL, ouvi esta manhã no rádio, morrem de AIDS [SIDA] em media MIL pessoas POR DIA!
A pesquisa informa que a maioria não usou condom. Os cemitérios estão repletos e já enterram dois cadáveres em cada cova.
Julio.
Eu sempre ouvi essa frase e interpreto-a de outra forma e para ser mais explicita, aplico outra frase não menos célebre: cá se fazem, cá se pagam.
Isto não abrange acidentados, doentes das mais diversas patologias, etc, etc. mas perante todo o ser humano que numa sede de prosperidade, maldade ou vingança, tudo faz em prol do seu umbigo e por vezes o tiro sai pela colatra.
Acredito no destino e tinha chegado a hora dos acidentados aéreos. Como um dia chegará a minha, onde? como? não sei!
Chocou ou mundo, porque quando acontece é de facto trágico, mas contabiliza as vitimas diárias nas estradas portugueses e vê para quantos aviões daria!
Há que viver um dia de cada vez e ao segundo, sempre de bem connosco para podermos estar de bem com os outros, já que com o mundo seria impossível.
Sabes Paulo é fácil apontar o dedo a quem numa das esquinas da vida foi surpreendido por algo como o HIV ou outra doença transmissível e a falta de prevenção/informação leva sempre ao que se sabe, onde os números são assustadores, como revela o Júlio.
O discernimento de e em tudo é um trabalho diário e como diz o teu título - Santos e Pecadores - quantos pecadores são santos e quantos santos são pecadores?
É isso mesmo e há que levantar a cabeça, sorrir, e num gesto indiferente seguir o projecto que abraçamos sem nunca chorar sobre o leite derramado.
Um enorme beijo amigo e sincero extensível aos comentadores
Paulo é mesmo uma Frase sem sentido... idiota mesmo... as pessoas costumam usar com vontade de vingança... e basta isso para dizer mto sobre quem a usa... isto já para não entrar em filosofias que nunca mais terminavas...tá tudo dito no teu texpo magnifico....
Ainda não acabei pintar a Tela do Rúl e depois envio as duas...
beijinhos e bom fim semana
Lídia
Gostei imenso do comentário.
Pelos exemplos apresentados, santos sim, sempre que impomos a humanidade sobre todos os interesses, sempre que somos gente, a toda a hora, em toda a parte.
Santos como objectivo, quando de pecadores o mundo transborda irremediavelmente.
Abraço apertado.
Júlio
Combater a realidade que nos apresenta é possível e essa é a verdadeira razão pela qual estamos aqui.
Prevenir e remediar, em ambos os casos, é possível o sucesso.
Um abraço
Fatyly
Gostei imenso do teu comentário, sempre lúcido e abrangente. Revela a tal maturidade que te é inata.
O trabalho diário nem sempre é fácil de cumprir à regra e por isso o que se leva da vida é a vida que se leva, o que não traduz significado obrigatório a atribuir aos actos de um, pelo simples facto da vida existir (e ainda bem) todos os dias.
Um beijo amigo e grato pela tua colaboração.
F@
Concordo com todas as tuas palavras e respectiva acentuação.
Num ápice "apanhaste" exactamente o que pretendo transmitir.
Beijinhos nas nuvens e obrigado pela tua amizade.
Oi Paulo...
Acho mesmo que a sorte é um fator bem importate viu?Se existem anjos ou demônios?Não sei Paulo, mas sei que existem pessoas boas e más infelizmente!
Estava com saudades de te ler!Adorei a poesi tb!
Beijos
Maria
Maria Dias
Entendo muito bem o que me queres dizer. De facto, graças à sorte, foi possível salvar mais uma vida, a mais importante de todas, para ti.
E eu, sinto a maior felicidade por isso.
Obrigado pela tua visita e gostei que tivesses gostado de me ler.
Beijo
Olá Paulo,
Como gostei de te ler e de te "ver" tão activo, pois já percorri os vossos espaços e já lá irei comentar a tua arte e o teu poema.
Há um tempo que não vinha por aqui, não por me ter esquecido, como já referi atràs numa pequena visita que fiz entretanto, mas porque andei a colaborar noutras lutas com outras patologias, que devoraram horas de intensa luta, mas que felizmente acabaram em vitória.
O teu texto é imensamente lúcido, fruto de uma personalidade forte e esclarecida como a tua. Todos somos santos e pecadores e a frase que referes não é senão ditada por uma sociedade egoísta e carregada de preconceitos.
Deixo-te beijinhos a ti, ao Raul e à Lídia e a todos os que têm activamente colaborado convosco.
Beijinhos
Branca
Caro Júlio
O teu comentário deixa-me preocupado com as noticias de cerca de mil mortos/dia devido à pandemia da SIDA. Erros politicos graves por parte dos governantes, muitos dos quais vêm filhos e parentes morrerem,têm contribuido para essa tragédia. Por outro lado mitos tribais, como o de a cura estar em ter relações sexuais com uma virgem somam o numero de vitimas. Nós os activistas estamos preocupados com essa situação, mas há muitas outras situações que contribuem para que essa situação se mantenha e eventualmente piore no futuro se nada for feito. A SIDA já não mata como no passado se houver politicas de saúde acertadas e tratamentos disponiveis para todos.A distribuição de retrovirais devido à dispersão geográfica das populações e a falta de campanhas massivas informando as populações são factores dificeis de ultrapassar.A Africa do Sul não é um país pobre ou subdesenvolvido e actualmente com as terapias retrovirais disponiveis não existe razão para tal mortandade, mas o certo é que ela existe. O problema maior a meu ver e por conversas que tenho tido com médicos sul africanos com quem me vou encontrando em congressos é realmente fazer chegar às populações os tratamentos adequados e fazer o seguimento continuado desses doentes. Talvez num futuro breve e quando o governo tomar conta do tratamento desses doentes e não os medical aids, para os quais é um encargo pesado devido ao custo dos medicamentos, a pandemia possa ser travada. A SIDA pode ser travada, tanto mais que doentes tratados e com cargas virais controladas não são infecciosos, e logo o numero de novas infecções começará a decrescer. Penso em breve escrever sobre a realidade africana em relação à Sida mas a informação é escassa e a realidade de cada país desconhecida.
Um abraço
Raul, em geral a promiscuidade sexual é adquirida com a multiplicação da publicidade pornográfica. Por outro lado, a SIDA não é o único “exterminador” de pervertidos sexuais, assim chamados; não sabemos exactamente como é que tanta gente se contamina. Os governos são, quanto a mim, os directos culpados da situação, por não porem um fim objectivo à pornografia.
Júlio.
Brancamar
Muito obrigado pela tua visita e pelas tuas palavras sempre tão lúcidas e cheias de esperança.
Sente-me perto, para tudo o que precises, sempre.
Estou aqui.
Beijinho imenso.
Paulo,
Já ouvi muito essa frase: "Cada um tem na vida aquilo que merece" e confesso que me irrito ao ouvi-la. Como assim?! E a criança que é covardemente usada pelo pedófilo. Mereceu isto? E aquelas que também foram contaminadas pelo virus do HIV enquanto eram amamentadas pela mãe infectada, essas crianças mereceram isto?! E mesmo homens adultos como você e Raul, soro positivos, mereceram isto?! Claro que não!
Não entendo muitas coisas da vida Paulo. Nenhuma religião ou crença me traz respostas para perguntas cruciais que com frequéncia me faço.Por que tanta dor a crianças inocentes e pessoas de bem, enquanto bandidos andam soltos na rua esbanjando saúde?! Não entendo Paulo, mas sigo amando as pessoas de bem, pois o amor é minha bandeira de luta nesta vida tão injusta. Sem amor, não importa de quem ou de onde venha, eu me sentira muito pobre, miseravelmente pobre.
Deixo um abraço forte pra você e Raul, duas pessoas por quem sinto imenso amor e carinho.
Olá!
obrigada p'la sua visita.
a frase em questão é redutora... e sem sentido... o seu texto é fantástico!
olhe, e porque falamos de "SIDA" e de "merecimentos", conheço um caso de um casal, já de proveta idade (muito estimado da sua terra, uma aldeia), em que a Senhora contraíu o vírus HIV, conforme atestaram as análises de rotina, para grande espanto da própria e da sua médica de família...depois da incredulidade, veio a confissão do marido, que numa ida a Lisboa, algum tempo atrás, esteve pela sua primeira vez, com uma prostituta... e para grande azar do senhor (que nem era nada dessas coisas ainda por cima), ficou infectado, e em consequência, infectou a esposa... ora então, a senhora mereceu? e ele? mereceu?... que vida! que coisa!
sou dadora de sangue e voluntária dessa causa, tenho apreço pelo que publica no seu blog, embora ainda não tivesse tempo para ler tudo...
não costumo alongar-me tanto nos coment... mas como é a primeira visita...
fique bem (dentro do possível)
fiz um pequenino hiato, de dia e meio nestas férias, regressei à "base" e à net, sigo amanhã para Madrid e Saragoça, vou à EXPO (apenas 3 dias), depois Castelo branco, quando voltar em meados de Setembro, vou ler tudinho com calma, agora vim só dar um abraço
e um sorriso :)
Odele
Gostei muito do seu comentário e eu também sinto assim a expressão: "Cada um tem aquilo que merece".
Muito obrigado pelo seu amor e pelo seu carinho.
Um beijinho para Si e outro do tamanho do mundo para Flávia.
mariam
Muito obrigado pela Sua visita e pelo comentário que nos deixou. Nada extenso, pelo conteúdo que apresenta.
Temos muito gosto em tê-la sempre presente por aqui, com a certeza de que será recíproco o nosso agradecimento.
Deixo-lhe um sorriso imenso :)
E um desejo profundo de uma continuação de boas férias...
Salve! Paulo
Eu não acredito no pecado. E de santo todos temos um pouco.
Também não acredito na moral, pois aceitá-la seria admitir a ideia de pecado. Não entendo nenhuma linha que delimite e distinga o bem e o mal. Acredito na ética.
Acredito que o nosso percurso foi por nós escolhido; com todos os seus escolhos e agrados. Porque das escolhas que fazemos ao longo desse percurso depende o nosso próprio evoluir indivivual como Ser Humano.
Não acredito nos infortúnios do acaso, nem na sorte e azar.
Acredito que quando chegou a nossa hora... é mesmo porque é tempo de partirmos, para outra vivência.
Não minimizo a dor dos familiares e amigos dos falecidos no acidente que referiste, nem minimizo os traumas dos que sobreviveram; uns e outros merecem e têm todo o meu respeito e solidariedade. Mas lembro o caso do casal de jovens que por 3 (três) minutos de atraso não lhes foi permitido fazer o chek-in e embarcar nesse mesmo voo, embora eles tivessem insistido no balcão e tal operação fosse viável.
Eu não olho para os escolhos da vida como um castigo ou punição por merecimento ou não merecimento. Olho para os escolhos da vida como desafios. E quando eles são fatais, então é porque eram para ser terminais.
Nascemos para viver e morrer, aprendendo pelo caminho. Não nos caiba a nós, em vida, a escolha do modo como morreremos.
O meu abraço solidário.
Salutas!
ManDrag
Acredito que estar vivo é estar a caminho, rumo ao incerto. Acredito que é preciso aproveitar sempre todos os momentos felizes e saborear a vida em todos os momentos bons que se nos deparam, para os quais devemos estar sempre atentos, para sermos felizes, consecutivamente.
Um abraço total.
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