De igual para igual

Pela vida fora, nos bons e nos maus momentos, o ser humano depende do seu semelhante para poder viver. A declaração de uma infecção pelo HIV é obviamente um mau momento, que infelizmente surge na vida de muitos de nós, representando um grande obstáculo no caminho que temos de percorrer, enquanto que por cá andamos. Como recém diagnosticado, o meu comportamento social tem sofrido algumas mudanças, desde o dia em que tomei conhecimento da minha serologia positiva para o HIV, e já lá vai quase um ano. Comecei por sentir um profundo desejo de isolamento, não queria ver, nem saber de ninguém, queria viver num mundo só meu, onde pudesse alimentar fortemente a minha desgraça. Aos poucos, comecei a sentir necessidade de sair desse mundo onde apenas sobrevivia, e tentar o contacto com pessoas na mesma condição do que eu, queria conhecer outras pessoas seropositivas, conhecer os seus trajectos, enfim, tentar rever-me nelas e quem sabe ter uma ideia de como seria o meu percurso, a partir do momento em que tomei conhecimento da infecção. Deambulei pela internet, acedi a sites sobre Sida, tentei obter o máximo de informação sobre a patologia, sobre os tratamentos, até que encontrei fóruns onde pessoas como eu, na mesma condição, relatavam as suas inquietudes, colocavam as suas dúvidas, exteriorizavam os seus medos, os seus anseios, enfim, descreviam um pouco do seu sofrimento. Contudo, encontrei também pessoas felizes, para as quais a infecção pelo HIV tem apenas um valor residual nas suas vidas. Comecei então a sentir-me mais amparado. De facto, nã estava só, existiam muitas e muitas pessoas na mesma situação do que eu, cujos seus sentires, não eram nem mais nem menos do que uma fiel cópia dos meus, ao ponto de me fazerem sentir arrepios, face à semelhança de sentimentos tão comuns, neste caso, a milhares de infectados. Assim sendo, pensei em frequentar grupos de auto-ajuda, mas ao mesmo tempo ia adiando essa possibilidade, com receio de vir a encontrar pessoas com percursos diferentes do meu, e me sentir chocado com a clarividência de algumas realidades da vida. Hoje, quando acedo aos fóruns, encontro sempre mais um(a) recém diagnosticado(a), pedindo ajuda, procurando contactar com pessoas na mesma condição, para que, de olhos nos olhos, se possa apaziguar a dura realidade instalada. Presentemente já vou caminhado pelo meu próprio pé, disposto a viver a vida o melhor que me for possível, e tenho já sempre presente a iniciativa de poder auxiliar, quem de mim precise, como eu precisei, pois de igual para igual desenvolve-se uma parceria constante e eficaz com a mais valia de se poderem construir sólidas e eternas amizades.

Caloiro

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