A Sida no mundo dos desfavorecidos

Algo que realmente me impressionou, foi o relato de uma mulher da Tanzânia, que referia que um dos maiores problemas que enfrentavam as mulheres seropositivas que estavam a tomar antiretrovirais, eram os maridos ou parceiros, que as obrigavam a dar-lhes a medicação para eles tomarem e mesmo que elas escondessem os medicamentos eles acabavam por os encontrar e roubavam-nos. Os homens mesmo manifestando sintomas de HIV não querem fazer o teste e não conhecem o seu estado de desenvolvimento da doença.
Diferentes culturas, diferentes graus de desenvolvimento mas isso não é o problema maior. A maneira como o mundo ocidental, levou a estes povos a medicina chamada moderna ou dos países desenvolvidos é que constitui o grande problema. Voluntários e equipas médicas começaram a levar comprimidos para a diarreia, malária e outras patologias dando-os a pessoas que á sua frente pela primeira vez tomavam um comprimido na vida. Estas acções fizeram com que muitos passassem a ver a medicina como um milagre e a deixarem a pouco e pouco as medicinas tradicionais e a confiarem na medicina ocidental para a cura de todos os males.
Para o homem que rouba ou exige que a mulher lhe dê os retrovirais, o significado dessa acção não é mais que uma procura para resolver o seu problema como se de uma dor de cabeça ou de uma diarreia se tratasse. As mulheres, crianças e velhos são os que mais facilmente abordam as equipes de assistência médica. Para os homens é um sinal de fraqueza fazerem-no e podem ser mal vistos por o fazer. na comunidade em que vivem.
É complicado gerir esta problemática para aqueles que estão trabalhando no terreno dando a assistência possível, muitas vezes com poucos meios.
Se por um lado a SIDA e as mortes associadas a ela possam levar ao descrédito, das equipas médicas que a pouco e pouco vão ganhando terreno face às curas tradicionais por outro lado esse descrédito pode levar a muito mais mortes devido a doenças que estavam erradicadas face à distribuição de medicamentos e cuidados de saúde prestados baseados na medicina moderna, visto as populações deixarem de acreditar nessas soluções.
Há um trabalho enorme a fazer e ele passa pela inclusão e formação dos curandeiros nos cuidados de saúde a prestar.
Da vontade do mundo ocidental ajudar e da maneira como esse trabalho for feito vão depender milhões de vidas humanas que actualmente estão em risco.
O problema não é só a falta de medicamentos retrovirais e de pessoal de saúde, são culturas e mentalidades que deverão ser transformadas para a realidade do século em que vivemos. Até lá vamos assistir ao alastrar da pandemia, assistir a mortes de seres humanos que morrem sem saber porquê e sem entender a gravidade desta terrível doença.
Qualquer acção a levar a cabo no continente africano e não só, pois embora muitos queiram fazer crer não é o único continente subdesenvolvido, tem obrigatoriamente de passar pela cultura desses povos e pelo respeito pelas suas tradições e pensares. Não bastará enviar retrovirais a preços baixos ou mesmo gratuitos pois embora sejam acções úteis são apenas uma gota de água num oceano de problemas.
A humanidade é um todo e tem de ser compreendida na sua globalidade e diversidade, se quisermos fazer algo válido para a salvar. Enquanto seguirmos politicas umbigo centralistas, baseadas em ficarmos bem no retrato internacional, certamente que não avançaremos nem resolveremos qualquer problema relacionado com a Sida e com as mortes que causa.
Quantas mais mortes serão necessárias para acordarmos para esta realidade? Será que os senhores do mundo estão dormindo ou simplesmente fingindo, sem se preocuparem efectivamente com os males do mundo.

3 comentários:

Pedro disse...

Os retrovirais sao tambem moeda no mercado negro em muitos desses paises e talvez alguns maridos os tirem as mulheres por esse motivo e nao so para os tomarem. Uma colega nossa que fez um pequeno estagio na Africa do Sul mencionou este problema.

Anónimo disse...

Actualmente na Africa do Sul as coisas estão a mudar, no que diz respeito ao acesso aos retrovirais,contudo essa hipótese ou facto era falado de boca em boca. O panorama é bastante aterrador quanto ao numero de infecções e as dificuldades de seguirem os doentes também, segundo um médico sul africano que presta serviço na zona de Cape Town,e com estive a falar em Glasgow.O testemunho dessa colega seria óptimo caso seja possivel, para publicação aqui no blog.
Um abraço

Pedro disse...

Ainda bem que as coisas estao a mudar na AS. Esta minha colega esteve la ja faz tres anos e agora e especialista num hospital em Birmingham.
Um abraco.