Watcher em Mosaico

Uma pesquisa no Google com as palavras “Watcher em Mosaiko” e logo apareceram posts do “Sidadania”. Experimentei escrever também “Watcher em Mosaico”, em melhor português e o resultado foi desanimador. O título do desaparecido Blog era mesmo com K mas as pessoas têm tendência a escrever correctamente as palavras.
Isto a propósito de um comentário no post anterior, de alguém que levou tempo a saber por onde andava e descobriu o Blog actual acidentalmente, porque viu a fotografia do muro que também fazia parte da apresentação do Blog anterior.
O Muro é algo que tem um significado especial para mim e para outros sidosos, que o consideramos o monumento não oficial à Sida, à falta dele em qualquer lugar do mundo que eu tenha conhecimento, não obstante do número de vitimas que causou e continua a causar, para além dos milhões de pessoas que vivem com ela.
Para que muitos dos que lêem, este Blog e não pertenceram a um grupo de dezenas de infectados, que frequentavam um site sobre Sida, compreendam este post vou resumidamente descrever o grupo e as suas actividades quer a nível virtual, quer real em convívios que se organizavam.
O site era constituído por um fórum, um chat e uma secção chamada Positivos e mais tarde teve uma secção de Blogs. Os Positivos eram escolhidos pela direcção do site, e respondiam a perguntas colocadas no painel, por quem quisesse saber como era a vida de um infectado baseados na sua experiência. O fórum trabalhava como qualquer fórum, e era nele que as pessoas escreviam o que queriam e muitas vezes expressavam a sua arte com poemas e sentires. A jóia da coroa era sem dúvida o Chat, que passou a ser o ponto de encontro diário de infectados e afectados e onde qualquer um, quando a solidão e as dores apertavam podia ir até lá e comunicar em directo sem tabus de qualquer espécie com iguais em relação ao HIV. Teve tanta importância este chat no que se refere a relações humanas e apoio a seropositivos, que através dele se salvaram vidas de quem desesperado por ali aparecia muitas vezes com intenções suicidas e que depois de algumas sessões de conversa amiga aceitava o HIV e se integrava no grupo começando a aparecer regularmente. Através do chat e do fórum começaram a organizar-se jantares, pic-nics, acampamentos e outros encontros, que fizeram as amizades virtuais passarem a reais. Lá formou-se uma família, onde relações e afectos se desenvolveram, onde houve amores que ali nasceram e que perduram, e onde se desenvolveram amizades genuínas para a vida. Também tínhamos as nossas picardias e os nossos desatinos mas isso faz parte da vida. No virtual usávamos nicks e o meu era “Watcher” e mais tarde “Enxotasida”. Havia quem utilizasse vários nicks, conforme o seu estado de espírito, num momento específico.
Seria impossível descrever em texto com tamanho conveniente para publicação em Blog, todo o trabalho desenvolvido por seropositivos, quer no lançamento do site quer no apoio e ajuda a outros seropositivos, sendo de realçar a importância das acções de todo o grupo neste trabalho. Foi um fenómeno, de inter ajuda quer a nível de prevenção, quer na estabilização dos novos infectados, ensinando-os a viver com o HIV, que nunca aconteceu antes, isto sem menosprezar o trabalho de algumas associações que trabalham no apoio a infectados. Era uma associação virtual/real não formalizada, de apoio a infectados em que quem dava esse apoio eram outros infectados, a qual funcionava eficazmente e em que o pagamento por esse trabalho era o prazer de ajudar outros seres humanos que à sua semelhança, também tinham tido o azar de se ter infectado.
Todo este trabalho desapareceu de um momento para outro por decisão da administração, devido a um membro do grupo ter optado por seguir medicinas naturais no combate á sua infecção e falar delas no chat. O site era subsidiado por farmacêuticas e tal não era permitido. Embora houvesse soluções técnicas para se resolver o assunto não foram consideradas. O trabalho válido de infectados, quer no lançamento do site, quer no apoio à comunidade afectada e infectada pela SIDA não foi apreciado e foi lançado no caixote do lixo.
Até compreendo uma mudança na estratégia de um site que quer seguir a via da informação sobre a Sida, sem se preocupar com a parte de apoio psicossocial aos doentes e das vantagens que o mesmo traz para eles. Só não compreendo o porquê de numa fase inicial usarem pessoas infectadas para darem vida ao site.
O que me dói no meio de isto tudo, bem como a outros que por lá andaram, não é o facto de terem encerrado o Chat, os Blogs e depois os Positivos , mas sim o facto de boicotarem qualquer acção que pudesse levar a que o grupo que por lá se formou se reúnisse de novo. Participações no fórum que possam dar indicações, mesmo sem links dos sites por onde param actualmente os ex-frequentadores do site são simplesmente ignoradas e não são publicadas. Felizmente uma boa parte desses contactos foram recuperados, e os motores de busca como o Google fazem o resto. Um dia destes a família vai estar reunida de novo e as nossas picardias recordadas com saudade. Amadurecemos, e o vírus da SIDA continua a ser a nossa imagem de marca, e é o elo de ligação entre nós. Novos amigos juntaram-se a nós, houve nascimentos, divórcios e casamentos à semelhança do que acontece em qualquer comunidade. Houve quem mudasse de vida e de interesses em relação à problemática do HIV.
A SIDA pertence a quem a vive 24 horas por dia, e temos legitimidade e capacidade para sermos o porta-voz dos nossos anseios e das nossas necessidades.
Sabemos o caminho que queremos percorrer e para onde queremos ir. Unidos e organizados podemos seguir em frente, basta para isso que haja vontade da nossa parte, e trabalharmos para o bem comum.
Para os infectados a única diferença entre SIDA e VIDA é a primeira letra. Questiono-me se o S de SIDA, por se parecer com um cifrão ou pelo símbolo dos dólares, será uma atracção para muitos que sem serem in/afectados querem ser a voz da comunidade HIV+.
Será que alguém me pode dar uma resposta diferente, que não seja a de que é por caridade?

8 comentários:

Anónimo disse...

Foi bom ler estas coisas, eu que conheci esse site desde o principio ,quando nada tinha estava tal qual como esta agora tinha tudo o que tem agora mas nao tinha akilo que demorou anos a construir e que acabou em um lapso"o contacto que havia entre o ppl "eu ainda cheguei a tar dum desses encontros.Foi bom saber a historia como ela ta contada aki tks ru2x

Anónimo disse...

Sim,estiveste lá desde o inicio e sabias da importância que o chat e o site tinha para muitos.
Vamos olhar o futuro de frente e construir aquilo que merecemos e desejamos.A origem de te ter conhecido pessoalmente nasceu lá,e teres vindo dos Estados Unidos a Portugal para conheceres no real os amigos virtuais não é para qualquer um. Um abraço

Pedro disse...

Pensas que a SIDA esta para alem do entendimento das pessoas que nao sao seropositivas?...

Anónimo disse...

Não.Conheço até pessoas que não sendo seropositivas ao HIV a vivem no seu dia a dia.
Posso entender o que um condenado à morte sente,quando está numa cela do corredor da morte à espera de ser executado,no entanto não sinto o que ele sente e não posso relatar o seu sentir,baseado no meu imaginário.Um abraço

Anónimo disse...

Fechou-se um chat, abria-se outro. Que raio de mania de se dar à derrota. Aliás se, desde o início, me tivesse apercebido que aquilo era patrocinado pela indústria farmaceutica, jamais teria parado por lá. Mas ainda bem que não o soube :)
De qualquer modo, a pessoa que deu origem ao fecho do chat(e ainda bem que isso aconteceu para desmontar a hipocrisia e falso espírito de solidariedade que existia por parte de administração) tem um chat ligado ao site dele e, das vezes que lá tenho ido espreitar, aquilo está sempre vazio. E se recorresses aos teus contactos de email e através mesmo do blog, combinássemos um dia simbólico para começarmos a frequentar esse chat, matarmos saudades (há pessoas com quem não falo há que séculos!) e voltarmos a ajavardar as conversas, para escandalo de muitos presentes?

Anónimo disse...

É giro estar de novo a usar o meu nick Watcher:)
É complicado reunir toda a gente de novo num chat e para além do chat no site do Cinzento, que continua activo, houve outras tentativas falhadas noutros sites.
Foram momentos mágicos, com coisas sérias e importantes, misturados com o ajavardar de conversas que será muito dificil re-construir de novo.
Posso no entanto dar-te todos os contactos e organizares um jantar ou outro evento lá para o verão, pois as pessoas querem estar juntas de novo.
Podemos até pedir um subsidio a uma farmacêutica :)
Beijos

Anónimo disse...

Eu organizar alguma coisa? Estás louco? Queres que as pessoas se espalhem por restaurantes diferentes em sítios diferentes e que convide pessoas que pertecem a grupos diferentes? Trata tu dessa coisa e não disse que a ideia seria prolongar o que já existiu. Isso é impossível. E ainda bem. Não vivo do passado. Acho que seria interessante enviar emails ao pessoal a dizer que o chat do cinzento está aberto e sugerir uma hora para começar a aparecer quem quisesse. Um dia aparecia um, outro dia outro e, num instante, se criava um grupo, de novo.
Bora lá?

Anónimo disse...

Não posso miga.Este ano tá mais do que preenchido.Já estou com as palestras e formação sobre migrantes e HIV2,depois as drogas e redução de riscos, depois uma conferência internacional e Jornadas terapêuticas,mais algumas coisas que vão aparecer, para além das reuniões com as farmacêuticas sobre novos medicamentos que estão em desenvolvimento.Quero estar ocupado para me sentir vivo, mas não quero matar-me com excesso de trabalho :).
Há tempos abordei a Majo para organizar um jantar ou encontro mas ela tem estado doentita e vamos a ver se não vai precisar um figado novo.Vou falar com ela novamente,a ver o que se pode arranjar.
Vou reunir os emailos todos que tenho por cá da malta, tu envias os convites e tá feito.
Vê lá em que chat nos colocas, despassarada como és...
Beijos