Prisões: Regresso à liberdade


O Sidadania é o blog do Sidadão. É nossa missão alertar para aquilo que achamos injustiça social, com a intenção que seja corrigido. Já aqui escrevemos sobre prisões, seringas nas prisões e direitos dos presidiários. Convém que qualquer “sidadão” ou cidadão quando é devolvido á liberdade, tenha os seus documentos de identificação, cartão de segurança social e no caso de doentes crónicos um hospital onde continue o seu tratamento. Um e-mail que recebemos dá-nos um panorama de uma situação que achamos bizarra e que precisa ser corrigida. Por isso vamos publicá-la na integra tal como nos foi enviada.
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Caros sidadãos
Como não existe outra forma de denunciar o que se passa nas cadeias e com os reclusos, pois os mesmos não estão organizados, e quem diz que acompanha as situações dentro das cadeias, não o faz no terreno, quem quer não pode ou não tem meios, aqui fica mais uma situação com os doentes HIV, que não sei a quem pedir que assuma a responsabilidade de não permitir que tal aconteça.
Quem esteja detido por um período superior a 5 anos, perde o acesso ao Hospital aonde era seguido antes da detenção, passa a ser seguido no Hospital prisional. Até aqui poderia ser uma situação aceitável, pois estava garantido o tratamento e acesso aos medicamentos através do Hospital São João de Deus, o problema vem quando a pessoa que esteve a cumprir pena ( e sai vivo mesmo com uns cuidados médicos muito estranhos ) sai para liberdade , ao ser fechado o vinculo com qualquer Hospital do SNS , o recluso sai sem Hospital e sem centro de saúde aonde ser seguido, os serviços prisionais têm a amabilidade de fornecer medicação para 15 dias, o problema é que quem cumpre pena de anos fica sem documentos validos, sem Hospital para ser seguido , sem medico de família enfim sem nada… o 1 º obstáculo vem logo com a recusa do Hospital e tornar a seguir o doente, pois findo 5 anos sem movimento, o processo clínico é remetido para o chamado arquivo morto. Perde-se desta forma toda a informação clínica do doente, logo o doente quando se dirige ao Hospital aonde era anteriormente seguido, fica informado de que não consta da lista de doentes, mais grave ainda nem consta do SNS
1º- Tem que ir junto de um Centro Regional da Segurança Social da área de residência e, pedir que sejam feitos todos os procedimentos como se tivesse acabado de nascer, tem que ir a segurança social pedir um cartão da mesma, novo ou com actualização, para poder então ir ao centro de saúde fazer a inscrição para poder aceder ao SNS.
2º- Vai ao centro de saúde e pede para ser inscrito, para poder ser visto por um clínico geral, que tem que solicitar analises para verificar se aquele ser humano é ou não portador do vírus HIV (isto é valido mesmo para doentes que já foram seguidos em hospitais do SNS, e já à muito diagnosticados) .

3º- Chegado o resultado, que já se sabia qual era ,( pois grande parte dos doentes são sintomáticos e com esquemas terapêuticos), é então passada uma autorização para, que o doente se possa dirigir ao Hospital e solicitar uma consulta de imunologia, e é tratado como sendo uma situação nova, e mediante uma carta enviada pelo medico do centro de saúde é concedida autorização para marcação de consulta 1ª vez, ( não esquecer o doente está sem acesso à medicação que fazia no estabelecimento prisional, e ainda não é nesta fase que a mesma lhe é facultada ).

4º- Marcada a consulta é então visto pelo director de serviço, que pede de novo analises para decidir se o doente precisa ou não de ser medicado e a quem entregar o processo ( o doente já fazia medicação à anos, já tinha sido ali seguido , Combivir e Kaletra era a terapêutica com que era medicado, no Hospital Prisional por prescrição da Drª. Ana Galiano , mas nada disto tem relevância para o serviço prestado no Hospital de Stª Maria e ao que parece em todos os hospitais do SNS ).

5º- Quando chegarem então as análises pedidas ontem será então decidido a assistência médica a ser dada aquele cidadão Português, pois ainda não foi ontem que lhe foi fornecida medicação, este doente com HIV saído do Estabelecimento Prisional de Sintra em Outubro, está sem acesso à terapêutica para o HIV, desde essa data e até que a equipe medica do Hospital decida se o doente, retoma ou não a medicação, sujeito a ficar resistente a uma terapêutica que durante anos funcionou bem, interrompida por causas que lhe são alheias.

O mais duro de toda é que, esta é a realidade, que se surgir complicações que causem resistências aos medicamentos, mais tarde vai ser acusado de má adesão á terapêutica, e como sempre mesmo que a culpa não lhe for imputada, também não vai ser de ninguém, como actualmente acontece com a falta de articulação entre os Serviços Prisionais e o Serviço Nacional de Saúde.

Uma velha ambição de quem está preso, ter acesso ao SNS embora nesta altura não saiba se ficariam melhor servidos .
Eu sei que pouco ou nada se pode fazer nesta altura, tantos são os problemas existentes e emergentes, mas está-me no sangue , denunciar as prepotência dos mais fortes sobre os mais fracos, por isso deixo aqui mais esta partilha de revolta que sinto por tudo o que se passa num País Europeu, de uma Europa cheia de boas leis e maus exemplos.
HIVO

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