Dos autores do estudo "Reflectir sobre a SIDAdania"

O projecto “Reflectir sobre a SIDAdania” assumiu-se, em primeiro lugar, como um projecto de prevenção no espaço do qual se sentiu necessidade de aprofundar o conhecimento sobre a população-alvo (jovens adultos universitários), Neste sentido, integrou-se, quer um jogo para avaliar os seus conhecimentos na área do VIH/SIDA, quer um estudo empírico sobre as suas características sócio-demográficas, os seus comportamentos na área da saúde e face ao VIH/Sida e as suas opiniões sobre a infecção VIH/SIDA, assim como sobre a prevenção que tem sido desenvolvida por múltiplos actores, nomeadamente, instituições, governamentais e não governamentais, a operar nesta área.
Em primeiro lugar, e no que diz respeito aos resultados do questionário, salientamos o facto de os comportamentos efectivos para a prevenção (como o uso regular do preservativo e o não envolvimento em relações sexuais quando sob o efeito de álcool ou outras drogas) se encontrarem insuficientemente interiorizados, deixando a descoberto zonas de exposição ao risco. Por outro lado, a avaliação subjectiva permitiu integrar a dificuldade de pensar o próprio adoecer face a uma doença da qual se sabe que a etiologia é unifactorial e cuja prevenção depende (quase) em exclusivo do próprio sujeito. No entanto, este tende a percepcionar-se como correndo menos riscos e envolto numa esfera relacional protectora, enquanto coloca o perigo no exterior, nomeadamente, na população em geral. Porém, os nossos resultados revelaram que as questões da sexualidade não são isentas de factores culturais nos quais se inscrevem as diferentes representações de género e, por consequência, diferentes modalidades relacionais e a adopção de diferentes estratégias de prevenção, fazendo emergir a ideia de que a prevenção do outro, deve ser encarada como, igualmente, a nossa .
Finalmente, a origem e o percurso da informação que os estudante da nossa amostra possuem valida a importância das fontes (campanhas, família, amigos, escola) e a necessidade de manter uma mensagem presente, adaptada ao nível cultural, modos de vida e motivações dos destinatários.
Relativamente à utilização de um jogo, como forma de chegar ao público em questão, tratou-se de uma ideia sugerida por jovens que integraram actividades de um programa anterior, onde receberam formação específica sobre o VIH/SIDA e sobre marketing social, e que consideraram que uma abordagem lúdica chamaria a atenção dos seus pares para o tema. Assim, apelando aos instintos de curiosidade e competitividade que se supõe serem inerentes a todos e, muito particularmente, aos jovens, o jogo tinha como objectivo, mais do que permitir aferir sobre os conhecimentos que os jovens têm fazendo assim um diagnóstico das suas necessidades “formativas”, chamar a atenção para a necessidade de reflectir sobre o VIH/SIDA, na perspectiva de que “a prevenção do outro é também a nossa”, pelo que em nome de uma cidadania activa ninguém pode ficar indiferente ao problema que a infecção pelo VIH coloca à sociedade em geral.
Neste sentido, pensamos que o jogo, tal como foi aplicado nas acções em estabelecimentos de ensino superior, se constitui como uma estratégia que visa apelar a uma intervenção mais activa por parte de todos e como ponto de partida para uma reflexão sobre o tema.
Contudo, a forma como foi idealizado, nomeadamente, na sua apresentação em versão de CD-Rom onde existem mais perguntas do que na versão on-line e onde se disponibiliza todo o conjunto de questões que estão na base do jogo, permite outras utilizações. Concretamente, enquanto instrumento de prevenção se for utilizado com o apoio e o recurso a outros instrumentos que permitam completar a informação nele contida e, principalmente, se promover a discussão entre pares sobre os resultados obtidos por um grupo ou o aconselhamento de um técnico sobre o conteúdo e a gravidade das falhas de conhecimento que revelam as perguntas erradas, poderá ser utilizado em muitas outras circunstâncias.
A experiência que foi possível ter com o desenvolvimento do projecto permite-nos, desde já, confirmar que a ideia das jovens, de introduzir a temática através de uma forma lúdica, resulta.
E esta ideia vem ao encontro das principais conclusões que, em termos práticos, se podem retirar do projecto na área da prevenção, concretamente a necessidade de:
-Adaptar formas e conteúdos da informação/formação ao público-alvo a que se destina a acção, pelo que se torna imperativo conhecer as características específicas de cada grupo, não confundindo o todo com as partes (quando se fala em “jovens” a tendência é a de englobar um conjunto muito vasto de indivíduos entre os 15 e os 30 anos, sem atender aos subgrupos que efectivamente existem entre estes) e, fundamentalmente, proceder a um breve diagnóstico especifico sobre as necessidades de cada grupo (usando, por exemplo, um instrumento como o jogo);
-Promover informação e formação de forma continuada e diversificada, sem pejo de apelar a formas menos habituais de abordar a questão;
-Encontrar imagens/mensagens apelativas, que não passem despercebidas, no meio de tudo o que já existe: uma fotografia, um slogan, uma palavra, uma imagem chocante, etc.
-Diversificar locais de intervenção (escola, rua, bares, cafés, discotecas, …)
-E, indispensável, envolver todos os actores sociais na prevenção. Este TODOS inclui assim: profissionais de saúde, professores, artistas, desportistas, portadores/doentes com SIDA, jovens anónimos, jornalistas, políticos, etc

A Sida é, de facto, um problema de todos, da sociedade em geral, e não algo que se coloca apenas na esfera individual, nossa ou do outro. Nesta medida, a prevenção e a redução dos respectivos danos, tem necessariamente de envolver todos, pois ninguém pode, a não ser por pura ignorância, considerar que está a salvo dos seus efeitos. Os jovens inquiridos, depois da “estranheza” demonstrada ao serem convidados a pronunciarem-se sobre o assunto, parecem ter entendido a dimensão social do VIH/SIDA, algo que parece continuar a escapar a muitos. Escutando-os, envolvendo-os e dando-lhes condições para porem em prática as suas ideias talvez se tenha encontrado uma forma de melhorar a prevenção.
Em nome do SIDADANIA "O Blog do Sidadão" , agradeço a vossa colaboração com este texto, e sempre que quiserem escrever algo relacionado com a problemática da Sida estaremos ao vosso dispor. RU2X

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