O Cangalheiro e o Instructor de Condução

Vivo numa quase aldeia isolada, no interior do litoral do centro de Portugal pegada a uma pequena cidade chamada Lisboa.
Não me comecem a chamar burguês, porque não é um condomínio fechado, antes pelo contrário é um condomínio sim, mas aberto e vamos tendo os serviços básicos de suporte de vida. Temos posto médico e posto para pôr o totoloto e comprar a loteria, e na possibilidade de nos poder sair algum prémio o mais desejado é sem dúvida o prémio de arranjar consulta médica quando precisamos.
É uma quase aldeia em que pelo menos de cara conhecemos quase todos os que cá vivem. Eu tenho uma qualquer deficiência visual ou mental não identificada, que me dificulta fixar correctamente os rostos daquelas pessoas que vou vendo, mas com quem não convivo diariamente. Isto já me causou embaraços tendo sido o último deles no Colombo onde estava a participar numa quermesse das hepatites C, e me aparece uma senhora , me dá um beijo e chama-me pelo nome ficando eu estupefacto a olhar para ela e ela embaraçada com medo de me ter confundido e eu não ser a pessoa que ela pensava. Só quando ela me disse o nome é que a reconheci e só depois é que olhei para a pequenita dela que a acompanhava e que tem um rostinho lindo e inconfundível. Era uma amiga minha que já não via há mais de um tempão. (Um beijo para ti Gaivota se leres este texto), portanto não se admirem com o que vou contar.
Entre os diversos serviços que por cá existem, aqui há uns anos apareceu cá pela quase aldeia uma escola de condução e uma agencia funerária. A agencia funerária mais afastada do centro e a escola de condução quase no centro, ambos os negócios cresceram e a escola de condução mudou para um espaço maior, também aqui quase no centro e por sua vez a agencia funerária mudou para as instalações onde anteriormente estava a escola de condução.
Por esta altura, depois de lerem esta introdução devem estar a pensar o que este texto está a fazer num blog dedicado á SIDA e á Hepatite C, mas contudo há uma ligação e só depois de o acabarem de ler é que vão compreender o porquê de eu o escrever e publicar aqui.
Voltando atrás, á mudança do “Cangalheiro” para o local onde antes estava o “Instrutor de Condução”, ambos começaram a ser caras conhecidas cá pelo burgo e para azar o meu as ditas figurinhas até são parecidas. Pelo menos na minha opinião, e considerando a deficiência que atrás citei de ter uma certa dificuldade em fixar rostos, com quem não convivo no dia a dia.
Ás vezes encontro-os num ou noutro café e não comece a imaginar eu falar com o cangalheiro e dizer que com a má preparação dada pelas escolas de condução morrem muitos jovens e que o ensino da condução devia ter acompanhamento pós carta tirada e ele dizer-me que tem muita pena mas se não houvesse mortos ele iria á falência e logo a seguir estar com o instrutor de condução e perguntar-lhe como é que tratam os cadáveres dos indivíduos que têm acidentes de viação e ficam aos bocados.
Nunca me aconteceu encontrar os dois ao mesmo tempo num café, mas aí não teria problemas, pois em jeito de chalaça chamar-lhes-ia sócios pois um ensinava a malta a matar-se de carro e o outro aproveitava e fazia o funeral.
A história acabou, e eventualmente você ainda não compreendeu qual a relação entre o texto e o HIV e HCV. Leia-o de novo atentamente e mude as personagens da história.
Ponha médicos e pessoal de saúde, laboratórios farmacêuticos e medicamentos, governantes e serviços de saúde e não se esqueça de incluir os doentes e os tratamentos a que são sujeitos para se curarem, passando também pelas associações e o apoio aos doentes. Veja o que cada um faz e as áreas onde cada um actua. Faça você a sua própria história e tome as suas opiniões próprias. Eu tenho a minha história , que obrigatoriamente, não tem de ser igual á sua . É como nestas patologias em que cada caso é um caso. Todos diferentes, todos iguais ... uns mais do que outros é claro.

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