
O infectado pelo HIV cambaleia num percurso de vida em que o medo é uma constante. Não só o medo da morte, comum a todos os mortais, mas o medo da exclusão, da dor e, sobretudo, da perda de capacidades a que vive sujeito pelos tratamentos que vão deixando sequelas.
O HIV é um parasita que se cola à pele e à alma, que tolhe os movimentos, que escarnece e acena com a esperança para defraudar em seguida.
Estes doentes precisam pois dum apoio redobrado. Um apoio que falha em tempo de individualismo e discriminação. Discriminação que não vem apenas da doença mas de todo o percurso de vivências e de todas as interrogações que lhe estão associadas.
Apesar das verbas astronómicas que estão a ser canalizadas, em todo o mundo, por entidades públicas e particulares, com vista à investigação científica, tudo parece ficar mais ao nível das cobaias que na apresentação de resultados práticos e consistentes.
Isto desmoraliza quem sofre da doença ainda que a cura se possa encontrar à distância dum passo.
Porém o que me assusta, como espectadora deste processo, é facto do mesmo vir associado à pobreza e à elite assumindo a estratificação um cariz duma dureza extrema se tivermos em conta as realidades das populações carenciadas de toda a África, e mesmo nos USA, onde a população negra conhece índices de contaminação absolutamente inqualificáveis num país desenvolvido.
O caso, recentemente divulgado pela imprensa, sobre a cura dum norte-americano de 42 anos, foi uma autêntica pedrada no charco e um motivo de perplexidade para a comunidade científica tão interessada em produzir fármacos, mais talvez que na aposta da descoberta que salvará 33 milhões de infectados.
Este homem, seropositivo, foi submetido há dois anos a um transplante de medula com vista a curar uma leucemia. Seiscentos dias depois, e sem que a leucemia tivesse cedido terreno, verifica que venceu uma batalha em que ninguém acreditaria: CUROU-SE DA SIDA.
E tudo porque na altura da cirurgia o seu médico se lembrou de fazer uma experiência que consistiu em escolher, entre os possíveis dadores, um que apresentava uma rara mutação genética, que o torna imune a quase todas as estirpes de HIV, e que só está presente em 1,5 por cento da população.
Na altura do transplante os médicos suspenderam a administração dos medicamentos do HIV para que o transplante não fosse rejeitado. Porém, quando novas análises sanguíneas ao norte-americano, foram efectuadas, não se encontraram quaisquer vestígios do HIV.
Este caso, que surpreendeu a comunidade científica, ao invés de significar o princípio duma possibilidade de cura total, foi pouco divulgado e, mesmo assim, com muitas cautelas sob o argumento de que esta seria uma intervenção com muitos riscos a nível do aumento das infecções e da mortalidade.
Porém, para além do facto do número de dadores com este tipo de mutação ser diminuto, há também a barreira dos custos: é que cada cirurgia deverá ascender a qualquer coisa como 195 mil euros.