Frutos Sazonais





“Andas azedo”, disse-me alguém que se permite a esses luxos, sem levar como resposta um chorrilho de concomitantes palavras menos doces, pela amizade existente entre nós.

Pequenas coisas servem como detonador em simpático inerte explosivo que só deflagra quando activado por uma carga atiçadora.



Curiosamente penso até nem ser pessoa de maus fígados, pese o facto de uma cirrose num dos lóbulos do dito órgão, que penso não ter qualquer influência na minha raiva social a qual repetidamente acontece na quadra natalícia, falácia de religiões que a inventaram para dar continuidade às festividades pagãs do solstício de inverno e tão bem aproveitada pela máquina de marketing do comércio global.
Paz e amor entre os humanos, enquanto o glamour das luzes brilha e caridade e bondade estão na moda desfilando em todas as passerelles, ocultando debaixo dos vistosos trajes a hipocrisia e a ganância entre outros adjectivos nada nobres.

Ando azedo e o meu azedume aumenta a cada dia, em cada bombardeamento de informação que mostra os sentimentos de bondade e amor ao próximo dos notáveis da nossa sociedade.
Publicidade gratuita num jantar dado a uma criança órfã e doente ou numa tenda com aquecimento e doces da época para alguns sem abrigo, que estiveram esquecidos durante todo o ano. É esta a bondade dos senhores na terra dos homens.
Também eu festejo o natal, uns dias antes mas festejo. Festejo-o na noite mais longa do ano dormindo um pouco mais. Enquanto durmo o mundo gira e avança rumo ao expirar dos meus dias, sem que sinta as injustiças num mundo do qual faço parte mas onde estou de passagem.
Esvai-se em mim a ira e revolta aos risos e esfregar de mãos, em sinal de contentamento dos vendedores do templo, quando a inocente expressão de felicidade no sorriso de uma criança se faz notar ao receber uma prenda. Cresce feliz alheia à realidade do mundo que a rodeia e que ainda não entende.
Ao mesmo tempo penso noutras crianças às quais bastaria um pão para lhes matar a fome e que expressariam o mesmo sorriso de felicidade se o tivessem.
Ando azedo. Desculpem este meu azedume. Um charro ou uma bebedeira poderão fazer-me rir e esquecer esse azedume, enquanto o efeito não passar. O “Santa Claus” também o faz, quem sabe para esquecer a deturpação da imagem que lhe deu vida.

2 comentários:

São disse...

Uma pena o cinsimo disto tudo...

No entanto, desejo-lhe alegre quadra festiva, sereno Natal e feliz 2011.

Bom final de semana

Casa RaSena disse...

em um mundo tão cheio de distorções da realidade. Todos nós temos nossos momentos de azedume!
bom domingo!
abraços,