A longa pausa do guerreiro



Pausar é preciso. Começa-se um projecto de entre ajuda para seropositivos e escolhe-se o meio, neste caso um blog. Defende-se uma causa, luta-se por ela e tenta-se desmistificar a SIDA.
Comecei por me auto apelidar de “blogueiro sidoso”, desconhecendo o que é ser blogueiro, bloguista, blogger ou que lhe quiserem chamar. Escrevia e escrevo numa plataforma interessante desenvolvida neste maravilhoso meio de comunicação a que chamamos blogosfera.
Os anos passam. Começo a aprender a mecânica e a maneira de estar no mundo dos blogues. Reconheço o valor da blogosfera como um meio poderosíssimo desde que se saiba aproveitar e gerir.

Um dia vem a desilusão. Fazem-se amizades facilmente e é comum as pessoas abrirem-se a certos temas tabus o que normalmente não acontece fora do virtual. Tudo parece perfeito no virtual e no acreditar dessa perfeição, desenvolvem-se e aprofundam-se sentimentos. De repente como que varrido por um tsunami tudo desaparece e fica a ilusão do ser que na realidade não o era. Criam-se grupos de amigos, há encontros que passam a reais mas acontece que tudo é volátil ou quase tudo.

Bajulam-se génios que o não são e o vulgar ou mesmo sem valor é dito como divino, perfeito ou soberano. Sentem-se como estrelas num firmamento inexistente onde querem ser a mais brilhante. O efémero do estrelato, as luzes da ribalta onde cada um se pavoneia se for essa a sua intenção.
Importante, sim o importante é a procura de leitores que comentem. Tantos e tantos nem sequer lêem o que se escreve ou passam os olhos rapidamente na vertical, procurando uma frase que dê sentido a um comentário. Outros apenas elogiam o escrito sem o ler e outros (que considero mais honestos) apenas escrevem: “Passei para dizer olá e desejar um bom fim-de-semana”.
Definem o seu valor pelos comentários como se de votos se tratasse. Uma verdadeira campanha eleitoral ao rubro pelas ruas da blogosfera em que se entrega o panfleto com um comentáriozinho na esperança da recompensa sob a forma de visita que venha pôr na urna de voto mais um comentário para engrandecer o ego.


A desilusão cresce a cada momento, quando vejo que o que pensava ser nunca o foi.
Paro, olho à volta e penso se vale a pena continuar. Pausar é preciso. E depois? Depois virá o balanço final e a decisão de parar ou continuar. Olhar de novo, apagar desilusões, pegar na peneira e jogar ao vento a palha e o grão, que de entre toda a palha haverá algo delicioso a conservar. No fundo da peneira encontrei deliciosos grãos que são o meu alimento para a alma. É por esta maravilhosa colheita que continuarei aqui a escrever enquanto valer a pena.

Adoro-vos amigos que o são.




21 comentários:

sideny disse...

Raulito

Estava a ver que tinha que continuar a ler o post antigo:)

Sabes vale sempre a pena continuar.

beijocas

obrigada

simplesmenteeu disse...

Porque realidade dói, doem-me as tuas palavras.
Apesar de tudo, vale a pena continuar. É que, no meio de tanta inutilidade e de feridas que sangram, há grãos verdadeiramente raros e por isso inesquecíveis.

Como os encontraríamos se não estivessemos aqui?
E, como conhecíamos, a pessoa admirável que tu és?

Obrigada por tudo o que és e dás.

Abraço forte

Eme disse...

Junot era um soldado de Napoleão que tinha as funções de secretário.
Um dia estava a escrever uma carta para Napoleão quando uma bomba caiu por perto atirando areia para cima da carta.
Junot disse apenas:
"Com esta areia não preciso esperar que a tinta seque".

Por muita bomba que caia em redor Raul, haverá sempre perto o mata-borrões para secar a tinta. Mais importante, há e haverá sempre quem entenda as mensagens que te comprometeste a passar quando criaste o teu espaço. As desilusões são exactamente a pequena amostra do que é o mundo real. E tal como no real, há as compensações de quem permanece e quem permanece sem motivo de qualquer interesse vale toda a pena e eu sei que tu sabes isso.

e adoro-te, amigo que o és.

Beijo

Unknown disse...

Caro Raul,
Este post é de uma realidade tão verdadeira que me conseguiu fazer sentir aquele nó na garganta que chega a doer por mais que o queiramos afastar.

Estou neste mundo virtual à um ano e também chego a sentir isso tudo que o Raul aqui acabou de escrever.

Para alguns só merecemos visitas e comentários se também os fizermos, tudo não passa de uma troca.
Outras vezes nos comentários não tenho sombras de dúvidas que quem comentou nem sequer leu o post, e os meus posts quase sempre são pequenos, o que seria se fossem grandes.
Mas felizmente que há sempre os amigos verdadeiros, aqueles que quando sentem a nossa ausência se preocupam em saber se está tudo bem. E é sim por esses que vale a pena continuar.

Beijinhos,
Ana Martins

Branca disse...

Raul,

O que escreveste não é nada que todos não tenhamos sentido ao fim de algum tempo de andarmos por aqui e eu já vou fazer dois anos de blogosfera em Setembro. Muitas vezes me apeteceu desistir, outras cansei-me, já poucas vezes me entusiasmo, mas quando tenho força para isso dou uma volta a todos como tento fazê-lo hoje.
Começa-se por ver que aqui se utiliza de forma levianamente intensa a palavra amizade, que se expoem vidas e sentimentos com uma facilidae que por vezes não se tem com os amigos de muitos anos e talvez por iso a desilusão, fruto de muita precipitação. É a fácil intimidade que se cria atràs de um monitor, em horas de predisposição para tal.
No entanto também se cobra e se julga muito, é tudo muito intenso.
Quantas vezes não se comenta porque a vida nos traz de rastos e cansados e nem sempre por abandono ou esquecimento, quantas vezes porque o queremos fazer só de forma sincera e com conteúdo, como dizes e nem sempre os dias são propícios a passar por todos os espaços nesse estado de espírito. Claro que como na vida real há afinidades que se acentuam mais, o que é humano.
Por tudo isso vale a pena continuar, pelos que estão quando devem estar, pelos outros que vêm pouco mas vêm por bem, porque mesmo os muito amigos vêm por vezes à vez, nem todos têm uma total disponibilidade, como também na vida real não falamos nem estamos com os amigos todos os dias, também aí eles seguem rumos que por vezes são diferentes e que devemos respeitar se somos amigos. A amizade só é verdadeira quando não há amarras que nos prendam e aqui também só será quando formos capazes de visitar aqueles que amamos mesmo que nem sempre nos visitem, há razões de vida que a razão desconhece. Outras vezes as circunstâncias serão diferentes e sentiremos o contrário que somos mais visitados do que visitamos e só nesta compreensão mútua o mundo avança, sem atribuirmos intenções que muitas vezes não existem, alegrando-nos com os outros.
O resto, o que fôr para além desta paz, é bom ignorar. O mal só está na nossa cabeça, muitas vezes não existe fora dela.
Este espaço deve sim continuar pelo muito que aprendemos nele e mesmo que algum dia páre, jamais deve ser fechado, para que muitos outros venham aqui beber um conhecimento essencial do que é a Sida e de como se pode viver com o HIV e de como se pode prevenir e de tantas outras coisas que só aqui aprendi, porque apesar de trabalhar num serviço coordenador de saúde que tem um gabinete dedicado a esta causa, não vejo que haja uma transmissão capaz de conhecimentos a nível de toda a população e nem tão pouco a todos os que trabalham na área. Se não fôr por mais nada essa é uma razão mais que suficiente. Pensa nisso.
Um abraço.
Branca

Sandra disse...

Fico muito feliz com as visitas dos amigos. Poetas agradece. Passe na curiosa também ficarei feliz com a sua presença lá.
Com carinho
Sandra

gaivota disse...

escritas feitas muito sérias e reais...
gostei bem de te ler!
boa semana
beijinhos

SILÊNCIO CULPADO disse...

Raul
Também estou de pausa mas por motivos diferentes e que tu bem conheces.
Quanto aos amigos da blogosfera eles são como são todas as pessoas em diferentes universos e contextos. Há os que são bons e os que são maus mas os maus por vezes também são bons e os bons por vezes também são maus. Valer a pena vale sempre. A vida é essa força, essa corrente que nos faz mergulhar mas também olhar o firmamento. E por esse olhar as estrêlas, ainda que por um momento, vale a pena ser blogger e mesmo ser jumento.
Abraço

Maria Dias disse...

Oi Raul,

Eu entendo o q vc quer dizer,é claro q percebemos quando a pessoa realmente lê a fundo o q escrevemos.Sei e reconheço esses leitores q só passam por nós sem nem se darem ao trabalho de ler o q nos vai em nossa alma.Sim pq o q escrevemos aqui é o q vai fundo na nossa alma não é mesmo? Nao se desiluda Raul,pq se na vida real aonde temos o contato físico e o olho no olho na maioria das vezes os amigos de verdade não cabem nos dedos de uma só mão, que dirá aqui q muitas vezes nem nunca olhamos no olho um do outro?As amizades por aqui são muito superficiais(efêmeras) sim pq aqui se tem a facilidade de
criar um personagem e sabemos q existem os talentosos em cria-los.Prossiga com seu trabalho amigo.Siga fazendo o q acredita pq tenho certeza q tem ajudado muitas pessoas,q chegam por aqui muitas vezes desacreditadas e saem daqui mais confiantes...Seu trabalho é muito bonito(tenha certeza disso!).

Abraços

Maria

Maria Dias disse...

Ah, me esqueci de dizer q eu por algumas vezes me despedi da blogosfera mas voltei atrás.A gente pode sim mudar de idéia e voltar atrás tb Raul.Como vc, muitos já pensaram em desistir por muito menos.Aqui damos muito de nós,damos os nossos segredos,as nossas verdades,damos o nosso interior e muitas vezes um pedaço de nós q ninguém no mundo real conhece.Nem tudo está perdido.

Elvira Carvalho disse...

Excelente post Raul. Esqueceu porém duas outras classes de bloguistas. Aqueles que passam e deixam o link do seu blog, pedindo para o visitar, e aqueles que passam até leiem na integra, mas não se sentem com coragem para escrever um comentário, ou porque o assunto é desconhecido, ou porque simplesmente não sabem que dizer.
A mim acontece-me muitas vezes esta última situação.
Quanto ao resto o mundo virtual não é muito diferente do real... Pessoas boas e pessoas falsas.
Vou fazer 3 anos que por aqui ando.
Já vi e senti muita coisa. Mas também se encontra gente boa. Nestes quase três anos, fiz 3 cirurgias e perdi meu pai. E em todas essas situações, tive amigos virtuais que foram mais constantes no apoio do que alguns amigos de longa data. Houve um amigo blogueiro de Leiria, que se deslocou com a esposa ao Barreiro para acompanhar meu pai à sua última morada e me dar o seu apoio.
Nunca nos tínhamos visto e isto nunca vou esquecer...
Por isso amigo, descanse o tempo que entender, e depois volte. Pode crer que há gente que vai sentir a sua falta, e vai ficar contente quando voltar.
Um abraço e tudo de bom

São disse...

Eu li todo o texto.

O mundo internético é falsamente fácil, pois nos dá a ilusão de conhecermos alguém que nunca vimos...e talvez nunca vejamos.

Também já sofri amargas desilusões, maS nem por isso desisti: espero que também o não faças!

Fica bem!

MARIA disse...

Raul, passei para dizer muito obrigado, para deixar um beijinho com sincera amizade, com carinho.
Mas ...
Li todo o texto. Gosto muito de lê-lo.
No meu actual momento de vida apenas consigo fazer-lhe este comentário :
Dizem elas por mim - http://www.youtube.com/watch?v=ecOjpOtdeZg


Beijinhos Raul.

Maria

Tony Madureira disse...

Olá Raul,

De facto tudo o que dizes(infelizmente)não deixa ser verdade. Contudo, em minha modesta opinião acho que deves continua o teu trabalho, sim trabalho, pois acho que o que fazes na blogsfera é trabalho e muito bom. Assim, depois de descansares o tempo que achares por bem, volta para continuar este excelente trabalho. As atitudes ficam com quem as pratica. Os (verdadeiros)amigos, esses continuarão sempre...

Grande abraço, e até já...

Fatyly disse...

Li e reli e voltei a ler. Há 11 anos que ando na internet, primeiro nos sites essencialmente de poesia e literatura onde se partilhava e há cerca de 2/3 anos nos blogues.
Os comentários que mais me irritam são precisamente o que tu achas mais honestos: "Passei aqui para dizer olá, deixar um beijo etc." ou quando "Vim aqui, adorei e faça uma visita ao local X".

Só me admira é que tu sendo o homem que és te desiludas com algo ou alguém que quer o brilho do "estrelado", que parecia uma coisa e saiu outra... Oh rapaz e lá fora como é? Quantas vezes nos desiludimos perante alg ou alguém que nos parecia uma "bolacha delicosa" e nos saiu uma "bolacha torrada e amarga"?
Se me perguntares se dói, claro que dói, darmos tudo e sermos feridos, mas se faz favor só te admito "uma pausa" e nunca "uma desistência", porque não te conheço pessoalmente mas pelo muito que já li gosto do que escreves, sempre comentei o que li, mas li mesmo já que nunca soube dar graxa.
Comentários, pois claro...é notório quando não são lidos e igualmente notório...ai é? não vens ao meu espaço eu não irei ao teu. Estou-me nas tintas se comentam ou não o meu e só venho aqui quando posso ou me apetece.
Corre comigo pá, porque hoje estou numa de "fúria guerreira".
Lembra-te do que escreveste: esvazia o porta-bagagens e enche de novo mas apenas com o que te preenche porque "tudo vale a pena quando a alma não é pequena", e falando de alma, todos ou todas que te chatearam (até posso estar incluida) dá-lhes asas e lança ao vento.

Fogo pá, queres ir beber uma bocado de água do Bengo ou preferes do Zambeze?.

Descansa guerreiro e continua na e com a tua postura!

Um abraço

Isabel disse...

eu.sou.


não génio. não coisa . nenhuma.


sou.


o abraço. na distância.



beijo da imf.

gaivota disse...

a vida tráz e leva, dá alegrias e tristezas, é o caminho que nos é dado percorrer!
uma pausa, porque não?!?!??!
sempre em paz e vontade de existir, de lutar e de seguir
beijinhos

A OUTRA disse...

Na blogosfera ninguém tenha esperança de haver um mundo como sonhamos, para mais sendo o mundo do "Faz de conta".
São milhões e milhões de Blogues, milhões e milhões de sites sobre assuntos de tudo que existe e até do que cabeças muito imaginativas criam, como máscaras, num Carnaval virtual.
É cada vez mais um mundo onde viver é uma fantasia por vezes perigosa.
Encontra-se solidariedade, amizade, verdade, honestidade, e muito mais coisas de que gostaríamos que a vida fosse feita, mas... também se encontra na amizade "virtual" maldade, obsessão, engano, crime se for necessário, tudo de maus sentimentos de que o ser humano é composto, e não nos podemos esquecer que, o computador não trabalha sozinho, do outro lado deste "rosto de vidro" que temos na nossa frente há um ou vários seres humanos que o comandam.
Virtual é realmente, e nós é que na nossa imaginação lhe damos forma, a forma que gostaríamos que o outro, "o virtual" tivesse.
Ainda para mais, poderemos estar a ser lidos ou gravados por uma máquina, o que ainda me irrita mais pensar.
No entanto, podemos encontrar também, sem nos precipitarmos, gente que está pronta a colaborar, porque, exactamente por ser comandado por gente é comandado por sentimentos, podemos ter sorte, e isso até com os nossos amigos que não são virtuais, com a própeia família poderá acontecer.
O mundo hoje felizmente é diferente, as pessoas têm armas mais poderosas nas mãos, informação mais actualizada, e portanto certos sentimentos também mudaram. São evoluções que, muitos não contavam mas que se tinham de dar.
Uma coisa lhe digo, é que eu até aqui não tenho razão de queixa deste mundo que comecei a conhecer há algum tempo. Assisto a coisas interessantes, e que cada vez mais me ensinam.
Desejo-lhe um bom fim de semana e peço-lhe que faça como eu, mantenho a confiança com uma leve sombra de desconfiança para dar um pouco mais de gosto à vida.
Desculpe este comentãrio tão longo, mas a Internet é um assunto que me entusiasma.
Bom fim de semana.
Maria

Unknown disse...

Jamais desista da sua realidade,ela me pertence,vivo em função d suas sabias palavras,acredito em voce,ja sou sua amiga sem ao menos imaginar uma face ou conheçer seu coração...
nunca pensei em postar nada mais hoje vejo q não saberei viver sem essa essencia de vida que te pertence..bjs dentro do seu coração!!!

A OUTRA disse...

Mais uma vez voltei a ler "A longa pausa do guerreiro".
Mais uma vez me fizeste pensar qual a finalidade de tanta coisa sem valor a que nos apegamos e que por fim nos parece não poder dispensar!
Não quero carregar no Del mas por vezes apetece-me ceder à tentação de o fazer...
Tenho tanto para ler aqui!...
Boa semana
Maria

Anónimo disse...

completamente de acordo tambem eu me cansei da hipocrisia dos que dizem fazer as coisas em nome de outros.
Tudo não passa de um jogo de intresse em que cada um tenta puxar para dentro do seu saco a maior parte do bolo destinado a todos os outros que supostamente iriam benefeciar das actividades dos iluminados , que passam um atestado de etupides a todos os outros que deles discordam, cada vez o pote tem menos € , logo é velos a inventar formas magicas de incutir nas instituições estata´s as suas « boas intenções de defesa dos mais fracos »
Triste sina a minha que vivo num País de acefalos , gente que tudo premite até que os outros sque deturpam a realidade comandem os seus destinos

Jokas e Abraços

Nuno Fernandes