Como bolas de Sabão...


São códigos binários viajando à velocidade da luz. Um complexo entender de pares, uma diferenciação de géneros, o sim ou não, o positivo ou o negativo. As portas abrem ou fecham automaticamente para permitir ou negar a passagem do invisível que os olhos não conseguem captar.
Uma corrida louca que acaba na meta, aparentemente ao mesmo tempo que começa, na impossibilidade do relógio medir o tempo consumido na viagem.

Em tela apresentam-se os resultados, agora visíveis aos olhos. Revela-se o desconhecido, há o deslumbramento e o eleger de ídolos. Formam-se amizades e laços afectivos. Sem passado, sem diferenças sociais, étnicas, culturais, etárias ou religiosas.
É o virtuosismo do virtual. É a perfeição gerada na imperfeição do elemento físico que tantas vezes rejeita o mau visível em detrimento do bom oculto.

Florescem em deserto regado pelas chuvas sazonais com todo o seu esplendor e logo murcham e desaparecem com o estio, salvo algumas que teimam em resistir às agruras do tempo real, criando raízes profundas que as mantêm vivas e de onde vão sugando os elementos essenciais à vida e à sua continuidade.

Amizades que nascem na tela do computador. Os pontos de encontro e os conhecimentos são muitos, dividem-se pelos mais diversos temas e gostos. Registam-se em palavras escritas o enaltecer de qualidades de tal forma que se constrói uma visão aos olhos de quem lê, de um ser desejável num mundo tão ferido pelo desamor dos homens. É o bajular de uma existência medíocre, para um sentir efémero. É palco de estrelas feitas de papel esvoaçando no firmamento das chamas do inferno da vida. É o ego individual em crescente, que incha e onde o sentir de que o paraíso desceu à terra se manifesta.
Como bolas de sabão soltas ao vento, todo o esplendor e beleza flutuam durando o momento em que o equilíbrio dos elementos químicos se mantém.

De um momento para o outro rebentam permanecendo a nódoa em superfície imaculada como prova da sua breve existência. Como marca traduzida em desilusão e sofrimento. Ou como lição que se aprende mas que tantas e tantas vezes insistimos repetir como autênticos masoquistas na procura de um sofrer desnecessário. Valem sempre os bons momentos e as recordações. Mas valem sobretudo as raras excepções, que ano após ano se intensificam e que passam à esfera real.


Vale a pena? Responde-se pela mão do poeta que afirmou que tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
Com esponja húmida apago desilusões do passado, vivo o momento presente, sigo a caminhada e sei que na imensa amálgama de trigo e de joio sempre encontro uns grãos deliciosos que me consolam a alma e dão sentido à vida.

15 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

apenas isto que de tão brilhante não deixa espaço para mais:


tão assertivo que dói!


ressalvo a vida que se bebe mesmo no meio do deserto!


obrigada R.


o abraço. certo. e grato por este texto.

sideny disse...

Raulito

Bom texto.

há bolas de sabâo como eu gostava de as fazer.

Nâo tem nada a ver com o texto mas deixa estar apeteceu-me dizer isto.

beijocas

Eme disse...

Sai-se do desconhecido, quebra-se magia, reforça-se um laço. Cada nova dança é um reviver irracional de esplendor momentâneo. Não importa. Acrescenta-se ao caderno de memórias.

Estranham-se, cheiram-se e entranham-se. A capa da imaginação pendurada no cabide da entrada, o desconhecido aparece por momentos no espelho errado da criação que fora, não se lhe pode adicionar mais nenhum elemento.

Entra-se pelas muralhas dos olhos na caverna, sucumbe-se na aura brotada do apertar das mãos sobre o coração. E dos dedos extasiados contar-se-ão histórias aos quatro ventos.

Gravadas em bolas de sabão.

Fica quem perdura.

Fica quem importa, alicerçado na alma.

Beijo

Odele Souza disse...

Vale a pena sim amigo. Se já encontras uns "grãos deliciosos" pelo caminho, já vale a pena.

Deixo-te um forte e carinhoso abraço.

José Pires F. disse...

Caro Raul, este seu texto é simplesmente soberbo. Como estou sem tempo para grandes comentários e como não saberia fazer melhor, deixo-lhe aqui as palavras de uma grande Mulher e Poeta, com um abraço de agradecimento pela lucidez deste texto.

Texto este, que uma boa amiga me fez chegar às mãos esta manhã, nem de propósito.


DE CLARA INTENÇÃO

Escrever é um acto solitário.
Escrever é um acto narcísico.
Crescemos à medida que alinhamos palavras sobre o branco macio do papel.
É como tirar um retrato todos os dias
e todos os dias olhar para ele com lentes de aumentar.
Não passamos de bichos. Inchados. Presumidos.
Achados e Perdidos no mapa do vício de tentar chegar à eternidade.
Terna idade de resguardar uma asa de ternura.
Voamos baixo. Rende aos bens de consumo.
Consumimos vitaminas e antibióticos na intenção de recuperar o brilho da pele.
Que é precária. Mutável.
Ardemos pela vaidade. Gelamos pela consciência do medo, pela ardósia da culpa.
Em vez de alma temos um relógio. Apressado.
Em vez de coração temos nuvem. Espessa.
E pouquíssima coisa vale a pena neste vale de chumbo pesado.
Amanhã é outro dia. O mesmo dia.
O nenhum dia. Hoje tudo é possível.
Agora é só um momento.
Escrever é um acto de suicídio. Voluntário. Ostensivo.
Uma exposição a preto e branco sobre o nevoeiro.
Quem escrever descreve-se. ou não.
Verdades, mentiras, omissões, intenções.
Cores impuras de um arco-íris íntimo e adaptável.
Azuis e vermelhos.
Quadros que o tempo doura, arrefece, transforma, cristaliza.

E nunca somos diferentes. E nunca somos o mesmo.
Telas sempre em branco, ou, quem sabe,
Manchadas de vermelho doce.

IMF, Na contracapa de VERMELHO DOCE, Colecção Encantos da Língua Portuguesa, PRODUCE – Produções e Edições, Lda, 1992,

SILÊNCIO CULPADO disse...

Raul


Este texto é espectacular. Não estou a enaltecer o ego mas a fazer justiça.
Relativamente ao mundo virtual temos pessoas com defeitos, virtudes, jogos de interesses e generosidades tal como acontece no mundo real.
Mas há amizades que nos marcam e dão consistência à vida.São aquelas amizades que se preocupam quando percebem que não estamos bem, que nos aceitam tal como somos e estão sempre prontas a segurar a nossa mão quando precisamos.

Bolas coloridas mas que acontecem e por elas valerá sempre a pena o nosso caminho.


Abraço

Vanuza Pantaleão disse...

Uma simples bola de sabão, efêmera, virtual, cores variadas, significando nada. Oh, Shakespeare, por que não nos socorres?
Que texto!
Que imagens!
O que disseste, amigo, com certeza, vai ficar!
Um abraço bemmm afetuoso!!!
Raul, seu nome?
Estou honrada em conhecê-lo.

Fatyly disse...

Vale sempre a pena caminharmos na estrada da vida, com altos e baixos, com curvas e contracurvas, com avanços e recuos e tal como o rebentar das "bolas de sabão" (que bela metáfora) encontramos sempre partículas que nos preenchem.

Gostei imenso!

Beijos

Mª João C.Martins disse...

Raul

A vida real está repleta de bolas de sabão e algumas bem menos coloridas que as virtuais.
Tudo o que escreveste com esse saber de coisa vivida, reflete bem o valor das experiências que vamos somando na vida. Experiências de ilusão, amizade, carinho e partilha ou simplesmente de desilusão ou desencanto.
São afectos e emoções, sentimentos bem reais que permanecerão nossos, guardados dentro do que somos, mesmo que as bolas luminosas e coloridas se afastem com o vento virtual e no momento seguinte, já não estejam lá.

Sim, vale a pena!

Um beijinho

Unknown disse...

É sempre bom sentir que se apanham esses "grãos deliciosos",amigos de verdade são para toda a vida.

Adorei o texto e os sentimentos que nele transpiram.

Bem-Haja!

Beijinhos,
Ana Martins

isabel mendes ferreira disse...

afinal o segredo está sempre nas bolas de sabão.... saber soprá-las com vagar e conseguir que se estalem na pele do coração.

seja a negro seja a branco.

importa sim que se fixem na memória de uma verdade.


obrigada Raul.

Casa RaSena disse...

olá,
o texto é lindo, mas bolas de sabão nos transportam para a infância, cheia de alegria, de felicidade, de confiança...
e, com o passar dos anos, as amizades vão e outras vem, e cada uma deixa algo em nossos corações, dependendo de nós como marcá-lo, com alegrias ou não...
amizades físicas ou virtuais - não importam...
(já falei demais, e já deves ter percebido que pouco digo, mas muito sinto- hehe)
tenha um lindo final de semana...
abraços com carinhos

Casa RaSena disse...

voltei!
vim agradecer seu comentário!
e, me perdí, quando lí seu texto!
mt obrigada pelo carinho!
abraços.....

Sónia disse...

Aqui, na net, salvo as devidas excepções, as bolas de sabão são mais verdadeiras, libertas das pressões e aparências que nos impõe a (im) perfeita sociedade. Isso abre-nos um mundo de janelas na alma e permite-nos mais rapidamente perceber onde está o trigo e onde está o joio. E mesmo as que estão só de passagem perpetuam-se em quem deixam um pouco de si. Algumas, como tu, demoram muito pouco tempo a consegui-lo.
Beijo grande

Matheus Luiggi disse...

OI! lembra de mim? o q criticou o cidadão com "s" Sidadão?
Ai desculpa eu naum sabia q sidadão haveria nesse sentido tá?!
Pra vc: "nxistense" e "R.Rudoisxis" acertei?
Desculpa também a demora p/ responder foi pq eu soh tinha visto hje quando fui atualizar o meu bloguinho.
Espero q aceitem minhas sinceras desculpas... :)