Armamentário Retroviral


A infecção pelo VIH tem subjacente, a partir de uma determinada altura, o estabelecimento de uma terapia para toda a Vida.

Actualmente é do consenso geral que o inicio da terapêutica ocorra quando as células de defesa (CD4) se mantenham num patamar inferior a 350 células, ou quando a carga viral se situa numa contagem severamente elevada. O objectivo é deixar o virus permanecer livremente no sangue, enquanto o infectado tem um sistema imunitário conservado, só se iniciando a terapia quando aumenta o risco do aparecimento de infecções oportunistas, causadas pelo enfraquecimento das nossas defesas, pela actuação do virus da SIDA.

Adiar o inicio do tratamento, se por um lado, retarda o aparecimento dos efeitos secundários associados à medicação, por outro, possibilita que a mesma seja efectiva pelo máximo tempo possível, retardando o aparecimento de resistências, causadas pelas mutações que o virus sofre, que faz com que aos poucos, as várias classes de medicamentos existentes deixem de ser eficazes, progredindo-se então e definitivamente para o desenvolvimento da SIDA, propriamente dita.

Se por um lado, existem portadores já sem opções terapêuticas, que aguardam pelo aparecimento de novas classes de medicamentos, por outro, existem pessoas nas quais a medicação é durante muitos anos, décadas até, eficaz a controlar o efeito devastador do VIH.

Para que isto seja possível, desde 1996 que foram implementadas as terapias triplas, que combinam três medicamentos de duas classes diferentes, neutralizando a replicação viral. Duas ou mais classes podem ser utilizadas na mesma combinação. As terapias triplas são um sucesso no controlo da patologia, tendo reduzido muito significamente o aparecimento de doenças associadas ao VIH, assim como, a mortalidade, causada pela destruição total do sistema imunitário.

Muito se tem evoluido na concepção dos medicamentos, quer na redução da quantidade das tomas diárias, quer na redução de efeitos secundários severos que colocam em causa a qualidade de vida do portador. Actualmente, já é possível, com um único comprimido por dia, controlar o VIH, comprimido esse que reúne uma terapia tripla. Os novos medicamentos são já menos agressivos para o organismo, onde efeitos secundários, como a lipodistrofia, que resulta numa distribuição anormal da gordura corporal, é já e apenas uma probabilidade e não uma inevitabilidade. Os medicamentos actuais são menos agressivos para orgãos essenciais, como o figado e os rins, tendo um perfil lipídico mais favorável.

Novas classes de medicamentos surgiram, com diferentes formas de actuação sobre o virus. O enfoque cientifico visa criar cada vez mais e melhores medicamentos, diminuindo a sua toxicidade.

Associar o sucesso das terapias existentes ao cumprimento rigoroso das tomas é a chave para o sucesso, permitindo viver muitos e muitos anos. A esperança de vida de um portador, aproxima-se da esperança de vida de um não infectado. Existem pessoas, que tomam medicação há mais de vinte anos e que fazem uma vida normal.

A todos aqueles que vão iniciar a terapia ou que a tenham iniciado recentemente, apelo para que o façam sem qualquer relutância e sem receio dos efeitos secundários. A terapia retroviral permite salvar a vida. Um dia a infecção pelo VIH terá cura e queremos estar cá para beneficiar dela.

12 comentários:

Fatyly disse...

Devido à tua experiência insentivas, apelas para não desistirem e isso é muito bom, muito gratificante porque a cura irá aparecer com toda a certeza.

Por vezes desanimam e ora vão abaixo ora vão acima e vir aqui ler e aprender com os vossos testemunhos será sempre uma mais valia para quem sofre e para quem quer ajudar minimizando o sofrimento do doente.

Força rapaz e há que enfrentar os problemas com garra.

Parabéns pelo post!

Um abraço

R.Almeida disse...

Paulo
Gostei imenso do post, aprendi uma nova palavra "Armamentário",e a fotografia que ilustra o post fez-me lembrar os desfiles do arsenal bélico da ex-União Soviética.A Seringa para a administração do T20lembrou-me os misseis intercontinentais,os comprimidos ovais as bombas da artilharia e os redondos as minas anti-tank.Os preservativos também activaram os meus pensamentos bélicos e trouxeram-me à mente os capacetes de aço nos quais as balas batiam deixando um zoar nos ouvidos que durava uma eternidade. Raramente os usavamos, pois eram incómodos,e não sei se quando uma bala batia na cabeça ficávamos a ouvir esse zumbido, pois nunca me aconteceu.
Comparando o preservativo com o capacete,por não o usar na cabeça de baixo,que não pensa e impede a de cima de pensar, fui atingido e o zoar do VIH (bala), mantém-se durante estes onze anos de infecção.
Fazes bem em aconselhar o uso deste armamentário. Um Abraço
*A seringa não é a da administração do T20, pois não tem o dispositivo de segurança, para utilização única, que devia estar presente em todas a seringas, e que a coordenação nacional teima em não adoptar nos kits para a administração de drogas injectáveis,mas vale pelo seu simbolismo.

. intemporal . disse...

Fatyly
Muitas pessoas, perante a adversidade, seja ela o VIH, ou outra patologia, ou até outro confronto grave que surge na vida, não reúnem forças para lutar. Decidem por termo à vida, muitas das vezes deixando familia, mulher, marido e filhos no mais profundo desamparo. Desistem de viver, cortando o mal pela raiz. O que pretendo transmitir é que devemos sempre encarar as dificuldades da vida e seguir em frente. Se estamos vivos é para isso mesmo, para viver o bem e suportar o mal e nunca deveremos ser nós próprios a colocar um ponto final na existência que nos foi dada. Quando estamos mal, muito mal, se olharmos para o lado, encontramos sempre quem esteja ainda bem pior e apesar de esse facto não nos servir de consolo, prova-nos que afinal, nunca estamos sós no sofrimento que a vida também nos proporciona. Um bom feriado e um bom fim de semana e ... aquele beijinho especial e sincero.

. intemporal . disse...

Raul
Companheiro de viagem. O termo "armamentário" penso que não existe no dicionário da lingua portuguesa. O termo foi-me transmitido pelo meu médico infecciologista, Dr. Eugénio Teófilo e é utilizado pelos médicos quando se referem ao arsenal de medicamentos que existem contra o VIH, pelo que, são na prática autênticas armas contra um virus hediondo e grotesco. A bem de todos os infectados, o "armamentário" cresce a cada dia que passa, as armas mais antigas, apesar de ainda serem utilizadas, vão sendo substituidas aos poucos, por armas novas e potentes, que em conjunto vão à guerra, não para a vencer no seu todo, mas para conquistar batalhas sobre batalhas, até que um dia, apareça a arma que mais se deseja, aquela que exterminará em definitivo o VIH dentro do corpo humano. Até lá constitui dever do infectado cumprir rigorosamente o manuseamento do "armamentário" que é colocado gratuitamente ao seu dispor, por forma a preservar a sua saúde e poder viver, sem que nada tivesse acontecido. É muito comum as pessoas recearam o manuseamento do "armamentário". Receiam os efeitos secundários, mas nunca se podem esquecer, que se o mesmo existe é para preservar a vida, por tempo indeterminado.
Aquele abraço, um bom feriado e um bom fim de semana.

P.s. Parabéns pelo uso que tens dado ao teu "armamentário" ao longo destes quase doze anos de infecção. Fica provado, que o manuseamento do mesmo vale a pena e continuas e continuarás presente na vida, à espera do exterminador, que um dia, quando menos esperarmos, estará aí, para o utilizarmos eficazmente.

Um dia, será possível, edificarmos um museu, no qual possamos expôr todo o "armamentário" que durante anos, foi utilizado por milhares de pessoas, na luta contra o VIH. Terei todo o gosto em inaugurá-lo contigo.

São disse...

Na última tentativa para aceder ao blog do Paulo não consegui e agora abriu o Sidadania.

Bom fim de semana para o Paulo e para o Raul.

Silvia Madureira disse...

Apenas tenho a dizer...que ainda bem que existem estes tratamentos e que surjam muitos mais....precisamos de vocês aqui. Porquê? Passaram por algo penoso mas que vos abriu os horizontes. Existem muitas pessoas com os olhos "tapados" e que não sabem o que é viver, divertir...vocês são sempre uma mais valia.

beijo

f@ disse...

Andei por aqui a ler os ultimos posts ... mto bons parabéns ... Essa relutância e tantos outros receios tantas vezes infundados são fruto de mta falta de informação e de alguns efeitos psicológicos devidos a questões sociais...
A terapia retroviral permite salvar a vida. Acho que todos deviam saber isso mas não sabem e são sempre apanhados pelo " bichinho papão - VIH" - o medo e descrença... mas com o tempo e mtos posts destes e mta divulgação e afectos tudo e resolve...
Obrigada pela visita às nuvens e beijinhos

. intemporal . disse...

São
O meu blog é o SIDADANIA e agora também o SIDADANIA II que a convido desde já a visitar. Obrigado pela sua visita. Fica a promessa que voltarei sempre ao seu cantinho, onde me sinto muito bem. Apercebi-me que a São gosta de viajar e esse é também o meu prazer maior.
Um beijinho

. intemporal . disse...

Silvia
Obrigado pela visita. Gostamos muito de a ter por aqui. Pretendemos ser uma mais valia, para todos os infectados, afectados e população em geral, que goste de nos ler e que essencialmente connosco fomente a construção de uma boa e sólida amizade.
Beijo

. intemporal . disse...

F@
Obrigado pela visita. Ficamos muito contentes por ter lido os últimos posts dedicados à causa da SIDA. O post "Retrospectiva" publicado anteriormente a este, foi um dos posts que mais prazer me deu a redigir. Espero que tenha gostado. Prometo voltar sempre a visitar as nuvens, um blog onde me sinto muito bem e... muito mais leve.
Um beijinho especial.

M.MENDES disse...

Paulo
Vivendo e aprendo e eu estou a aprender muito contigo.
És excelente, sabias?
Um abraço também ao amigo Raul.

. intemporal . disse...

M.M.Mendonça
Obrigado pela visita. Há muito tempo que não o via por aqui, o que não me deixou de preocupar...
Obrigado pelo elogio.
Um abraço sincero.