A minha primeira vez...

Ao longo da minha vida, passei já por muitas noites de Natal, muitos dias de Natal e muitas épocas natalícias. Encarei e vivi sempre o Natal como a maioria das pessoas, como sendo a época de oferecer e receber presentes, de me lembrar dos outros, dos familiares e amigos, de sentir uma vida mais luminosa por alguns dias. No entanto, no Natal de todos nós está sempre presente um compromisso obrigatório. Oferecemos porque iremos receber, e chegamos mesmo ao ponto de oferecer tendo em conta aquilo que pensamos ir receber, por forma a equilibrar as ofertas. Nestas palavras, resumo o Natal como uma época de trocas obrigatórias, impostas por uma sociedade que define compromissos e vontades, mesmo que alheias ao desejo de cada um de nós. A solidariedade é uma brisa que se apregoa da boca para fora. As pessoas carenciadas não necessitam de comer apenas uma vez por ano, num repasto oferecido por uma comunidade distante a tudo e a todos. Prontificamo-nos a oferecer um pacote de arroz ou uma lata de feijão, desde que isso não coloque em causa a possibilidade de adquirirmos o perfume de marca que ambicionamos ter. Após o Natal, deixamos de acarretar o peso do sofrimento alheio e cada um que viva como puder.Este é o meu primeiro Natal, após o diagnóstico VIH positivo. Pensei muito em nem sequer o comemorar, por força da falta de ânimo que me tem atormentado ao longo dos últimos tempos. Mas, quando somos confrontados com algo, que nos leva ao limite da vida, tal como a patologia que tenho, regressamos de lá mais fortes e mudamos em muito os nossos comportamentos e posturas. Assim, neste Natal não pretendo fazer as habituais trocas de presentes, nem deambular em stress pelos centros comerciais. Pretendo que este Natal seja Natal pela primeira vez, e Natal pela primeira vez passa por nos disponibilizarmos para apoiar todos aqueles que necessitam do nosso apoio, e por nos sentirmos felizes por sabermos que somos úteis a quem precisa de uma palavra amiga, de um abraço fraterno, de um sorriso abrangente, ou até de uma refeição quente, desde que não seja apenas uma, em tom de exemplo, apenas porque é Natal. Cumpre-nos a cada um de nós, estender os braços, abrir as mãos e sentir o próximo, pois tal como nós, muitas pessoas sofrem no mundo, a cada dia que passa. Existem, tal como eu, tantas pessoas seropositivas, outras com Sida, outras com cancro, outras ainda com tantas outras patologias severas e limitadoras. Existem também pessoas sós no mundo, sem amor, sem amizade e sem carinho. Outras ainda sem familia, sem lar, sem uma vida digna. O melhor presente de Natal é sermos cada um de nós o presente disponível a quem dele necessite, um presente a oferecer como um todo, sem a troca prevista. Durante 2007, tive sempre o apoio do verdadeiro menino Jesus, o proprietário deste blog, o caro Watcher, que sabiamente fez com que, todos os dias para mim fossem e sejam Natal. O meu profundo bem haja. A todos os que lerem este pequeno texto, quero também que saibam que estou sempre disponível, a que seja Natal pela primeira vez, todos os dias das nossas vidas. Não hesitem em solicitar apoio, para que todos os dias possam ser definitivamente, Natal pela primeira vez, bastando para tal, que cada um de nós possa ser, o presente a oferecer, a quem dele mais precise.
Caloiro

2 comentários:

Odele Souza disse...

Peço desculpas por não ter estado aqui antes para agradecer pela participação deste blog na Blogagem Coletiva em favor de Flavia.Em minha defesa tenho apenas a dizer que organizar uma blogagem coletiva a nível mundial é trabalhoso e toma muito tempo (rsrs). Mas o resultado compensou o trabalho.

Muito obrigada pela participação deste blog na Blogagem Coletiva de Flavia. Muito obrigada por este post e pela divulgação da história de Flavia, um exemplo de NEGLIGÊNCIA E IMPUNIDADE.

Eu e Flavia, deixamos aqui o nosso carinho.

PS. E claro, o SIDADANIA já vai lá para a lista dos participantes da blogagem.

R.Almeida disse...

Não há desculpas a pedir Odele. A sua luta é a nossa luta e a luta de todos aqueles que não se calam perante atropelos aos direitos humanos. Foi linda a blogagem colectiva e o nosso blog vai continuar a apoiar iniciativas do género.Devido à nossa condição de "Medicamento-dependentes" para continuarmos a viver,sentimos esses atropelos todos os dias quando um medicamento é absolutamente necessário e o regimem economicista para a saúde não o disponibiliza. Esperamos que o seu blog juntamente com todos os blogs de boa vontade que se associaram,se voltem a unir para denunciar outras causas importantes, nossas ou deles.
A causa de um é a causa de todos e unidos, temos a certeza que os nossos gritos incomadarão os senhores do mundo,na sua letargia para tomarem decisões em casos como o seu e outros.
Um beijo e muita força.