Sábado á tarde depois do almoço, uma soneca e o acordar. A casa vazia em silencio por vezes interrompido por uma sirene de ambulância ou por uma travagem brusca de um automóvel, que vê um peão na passadeira e pára para o deixar passar.
O cérebro está em estado semi letárgico, e parece que estou sozinho num mundo que não vai para lá das paredes que me rodeiam.
É neste cenário, que o velho relógio de pêndulo que se encontra no hall de entrada da casa, começa com a primeira das quatro badaladas avisando-me que são horas de tomar a minha medicação da tarde. Vou junto á cama, abro o armário da mesinha de cabeceira conto o número de comprimidos e todos de uma vez são metidos na boca e com uma quantidade de água razoável lá vão eles alimentar os meus bichinhos HIV, que nadam livremente no meu sangue e cujo controle de natalidade tem de ser regulado por este e outros medicamentos que tomo diariamente.
O velho relógio lá me vai controlando, e quando não estou ao pé dele é normal haver sempre alguns atrasos na hora da toma. O Importante é que dentro de um horário flexível lá vou dando de comer á bicharada.
A realidade volta, e o lembrar a infecção também, mas certamente será apenas por um bocado.
O acordar completamente implica para mim o tomar um café bem forte e fumar um cigarro. O cigarro faz mal, penso eu e como querendo justificar-me digo para mim mesmo que o café faz bem, pelo menos a comunicação social anunciou que ajuda a recuperar o fígado, que por sinal até não está muito bom devido á toxicidade dos retrovirais que tomo e que me causaram uma insuficiência hepática.
Acordado finalmente e virado para o mundo real, sinto uma enorme solidão mesmo estando rodeado de pessoas e os meus pensamentos navegam pelo percurso de vida durante dez anos de infecção e de tratamento retroviral. 2 internamentos, imensas visitas ás urgências hospitalares, a ida ás análises para tirar sangue, as consultas enfim todo um conjunto de acontecimentos, uns recordados outros presentes e que continuam a fazer parte da minha rotina de infectado.
Olho para o meu corpo e não me reconheço. Barriga de cerveja, peitos quase a necessitar de sutiã e um pescoço de búfalo embora ainda moderado. A face está cheia de covas o rabo desapareceu e as pernas e braços bastante magros , mostrando as veias todas á flor da pele.
A terapia retroviral funciona, tenho uma vida a nível de saúde com qualidade, enfim porque me haveria de queixar. Não tenho dores, a não ser as da alma mas para essas acho que não existe cura.
Afinal o que tem de mau o HIV? Se souberem digam-me pois eu não sei responder.
Interrompi o texto, para me barbear vestir e ir sair de seguida para certificar-me de que para além das quatro paredes onde me encontro existe mais gente e que não estou só no mundo.Até á próxima toma de medicação, sou um Sidadão livre. Fiquem bem, eu estou bem e vou aproveitar os momentos em que a sida em mim está adormecida.
O cérebro está em estado semi letárgico, e parece que estou sozinho num mundo que não vai para lá das paredes que me rodeiam.
É neste cenário, que o velho relógio de pêndulo que se encontra no hall de entrada da casa, começa com a primeira das quatro badaladas avisando-me que são horas de tomar a minha medicação da tarde. Vou junto á cama, abro o armário da mesinha de cabeceira conto o número de comprimidos e todos de uma vez são metidos na boca e com uma quantidade de água razoável lá vão eles alimentar os meus bichinhos HIV, que nadam livremente no meu sangue e cujo controle de natalidade tem de ser regulado por este e outros medicamentos que tomo diariamente.
O velho relógio lá me vai controlando, e quando não estou ao pé dele é normal haver sempre alguns atrasos na hora da toma. O Importante é que dentro de um horário flexível lá vou dando de comer á bicharada.
A realidade volta, e o lembrar a infecção também, mas certamente será apenas por um bocado.
O acordar completamente implica para mim o tomar um café bem forte e fumar um cigarro. O cigarro faz mal, penso eu e como querendo justificar-me digo para mim mesmo que o café faz bem, pelo menos a comunicação social anunciou que ajuda a recuperar o fígado, que por sinal até não está muito bom devido á toxicidade dos retrovirais que tomo e que me causaram uma insuficiência hepática.
Acordado finalmente e virado para o mundo real, sinto uma enorme solidão mesmo estando rodeado de pessoas e os meus pensamentos navegam pelo percurso de vida durante dez anos de infecção e de tratamento retroviral. 2 internamentos, imensas visitas ás urgências hospitalares, a ida ás análises para tirar sangue, as consultas enfim todo um conjunto de acontecimentos, uns recordados outros presentes e que continuam a fazer parte da minha rotina de infectado.
Olho para o meu corpo e não me reconheço. Barriga de cerveja, peitos quase a necessitar de sutiã e um pescoço de búfalo embora ainda moderado. A face está cheia de covas o rabo desapareceu e as pernas e braços bastante magros , mostrando as veias todas á flor da pele.
A terapia retroviral funciona, tenho uma vida a nível de saúde com qualidade, enfim porque me haveria de queixar. Não tenho dores, a não ser as da alma mas para essas acho que não existe cura.
Afinal o que tem de mau o HIV? Se souberem digam-me pois eu não sei responder.
Interrompi o texto, para me barbear vestir e ir sair de seguida para certificar-me de que para além das quatro paredes onde me encontro existe mais gente e que não estou só no mundo.Até á próxima toma de medicação, sou um Sidadão livre. Fiquem bem, eu estou bem e vou aproveitar os momentos em que a sida em mim está adormecida.
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