Mil e Uma V i d a s


Há momentos em que a leitura me confunde e revolta. Aconteceu sublevar-me perante um texto de Nietzsche no qual afirma que vivemos a mesma vida eternamente. Tudo o que fizemos e iremos fazer enquanto a matéria corpo se mantiver, já o fizemos milhões de vezes e iremos repetir tudo pela eternidade. Cópias de uma vida que desde a primeira edição se mantém inalterável como se fosse um produto de fabrico de série em fábrica de chinês onde a qualidade não prima pela perfeição e apenas a quantidade conta.

Condenados eternamente à rotina de um viver pejado de erros e actos nobres onde estaria o sentido da vida? O miserável sê-lo - ia eternamente e o bem sucedido a quem o destino bafejou com a sorte também. Seria um inferno terrível em que os infernos tradicionais onde o fogo eterno que castiga os ímpios e lhes purifica as almas pareceriam uma reconfortante lareira que ameniza o frio nas geladas noites invernais.

Aceitaria de bom grado esta teoria se a vida fosse o rascunho no projecto de uma vida livro onde nas primeiras páginas houvesse uma lista de erratas a corrigir até que a obra estivesse acabada. Leria com agrado a versão final para impressão onde a vida de qualquer ser humano seria uma obra-prima.

É certo que muitas coisas gostaria de repetir mas tantas outras gostaria de rever e corrigir. Repetiria alguns dos erros cometidos na cópia anterior, pelo êxtase e prazer que me deram quando sucederam, para de seguida apagar tudo como borracha apaga texto ou tecla de delete. Seria um renascer programado com registo de acções e actos que rolavam em percursos transformáveis que nos levariam onde quiséssemos e a ser quem desejássemos ser.

Não. Não pode ser. Seria frustrante tanto a versão Nietzsche como a minha, que embora mais preenchedora originaria o caos e a destruição do mundo pois tudo se reconstituiria a seguir.
A versão real com a incógnita do desconhecido futuro para além túmulo permite a cada momento a revisão do errante passado num aperfeiçoamento constante que embora inatingível, conduz ao conhecimento do mais íntimo ser.


Deito por terra o lábaro que erguia entre carcaças pestilentas que se decompõem e caminho sobre elas abandonando o campo de batalha sem contudo o esquecer. Sigo por vielas, carreiros, vales e montanhas e delicio-me com o cheiro das flores silvestres, mais além talvez surja a tentação e num desviar cairei de novo. Aguardo serenamente o final do livro da vida, que não será lido por mim nem por ninguém mas que é testemunho de obra feita e só acessível ao sobrenatural que nos guia. Sou pó, sou cinzas em forma de conhecimento de erros e virtudes que no final esvoaçará aos ventos e será adubo nas sementes que germinarão e assegurarão a continuidade da vida. A eternidade nada mais é do que isto.

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12 comentários:

Fatyly disse...

Possa pá que a versão Nietzsche deve ser enfastiante de ser lida:) e concordo com a tua versão...nada como nos finalmente virarmos cinzas mas até lá continuemos a sorrir e a disfrutar o dia de hoje tentando tornear ou emendar o que fizemos ontem porque o amanhã logo se verá.

Também já me dediquei a esse tipo de leituras e todas ficaram a meio porque espremido não dão nada e para mim não passam de puras teorias de ficção.

Beijos e obrigado por este momento de leitura

MARIA disse...

"Sou pó, sou cinzas em forma de conhecimento de erros e virtudes que no final esvoaçará aos ventos e será adubo nas sementes que germinarão e assegurarão a continuidade da vida. A eternidade nada mais é do que isto."

Oh Raul, poderá compreender alguma vez, plenamente, a infinita beleza que a sua alma alcançou, o seu crescimento...
Como me honra conhecê-lo ainda que assim ao longe...
Mas tão perto...
Perto da sua sensibilidade, da terna carícia com que enlaça a vida...
O barro é trabalhado com ardor,
O ferro suporta elevadíssimas temperaturas e ambos se transformam em arte, em beleza eterna.
Tantas sementes plantadas em corações perpectuarão o seu amor pela vida.
Amar a vida é conquistar asas de liberdade para de novo inventar novos planetas, novos céus...
Nós dois Raul, (tenho a certeza!)já vivemos 100.000 anos.
Algo de si tem lugar cativo em todas as vidas que a eternidade nos reserva.
Amigo :
Adorei o seu texto!
Tenha um 2010 com muito carinho, muita ternura, muito amor!
Tudo o mais... o dinheiro compra ....

Beijinhos

Maria

Anónimo disse...

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Mª João C.Martins disse...

Raul

És, somos, o resultado do que vivemos e a consciência que disso temos...
Poderemos até viver várias vezes a tal formatação inicial, não sei se será essa a versão verdadeira da eternidade. Sei que, mesmo que isso aconteça, nenhuma das outras vidas que supostamente tivemos,se encontra conscientemente presente nesta. Assim como nenhuma das que hipotéticamente teremos, terá consciência daquela que agora vivemos. Nesta teoria, em que eu encontro algum fundamento para o tão sentido e falado, " Dejá vu",
a sucessão de vidas será mesmo desprovida de propósito??

Beijinho

PS - O livro da tua vida, será sempre lido por ti e será eterno, enquanto de ti permanecer a memória.

Eme disse...

A eternidade é muitos dias como o de hoje. Fantásticos e recheados. Acompanhados dos amigos que te gostam. e de barcos, iates, areia e muita fruta :)))

Feliz aniversário Raul. Beijossssssssssssss

sideny disse...

Raul

Parabens :))

beijocas

gaivota disse...

a(s) vida(s)
feita destas coisas, indiferente e tntas vezes sem nexo...
há que sentir o 'sumo' da vida, né???
beijinhos

Anónimo disse...

Может обсудим на форуме ?

Cristina Fernandes disse...

A eternidade que encontramos em cada vida... parabéns por este texto acutilante e soberbo.
Um abraço
Chris

Odele Souza disse...

Se pudéssemos corrigir erros. Se pudéssemos voltar no tempo e mudar o rumo que o destino deu às nossas vidas. Se, se... Já me angustiei muito com tantos "se"...porque sabemos que poucos minutos bastariam para ter mudado o rumo de uma história que afinal não era aquela que esperávamos.

Do que é feito a eternidade?! não sei ao certo. Mas quero acreditar que seremos eternos. Eu, tu, ela...

Deixo-te um forte e carinhoso abraço.

maria josé quintela disse...

Não acredito nessa versão de Nietzsce. Até pode ser que voltemos aqui, uma e outra vez, mas será sempre de um modo mais evoluído, com um propósito novo.
Só assim haverá algum sentido e eu quero acreditar que haja.


E gostei muito de te encontrar aqui.:)

Um beijo.

anad disse...

É sempre bom vir ao seu blogue, aprendo. Aprendemos sempre uns com os outros.
Bom fim de semana
Anad