Homens e Gatos



Ninguém sabe onde começam e onde acabam as semelhanças. O certo é que entraram no quotidiano do povo. Homem bonito é um gato e mulher bonita é uma gata. A beleza humana comparada à destes animais meigos de pêlo macio e suave.

Até na SIDA as semelhanças são mais do que muitas. Os vírus que provocam a destruição do sistema imunitário actuam de forma semelhante e pertencem à classe dos retrovirus, possuindo o seu habitat natural em cada espécie.
As formas de transmissão são as mesmas ou semelhantes. O estigma da doença nos humanos foi transferido para os gatos e na impossibilidade [por muitos desejada] de morte aos infectados humanos, levantam-se as vozes que clamam o abate dos gatos com sida.

Por outro lado, “matam-se” os humanos com a discriminação e o apontar do dedo que julga e castiga. Rotulam-se com adjectivos depreciativos existentes ou inventados. Criam-se tensões tais que levam alguns que as não conseguem suportar a porem termo à própria existência.

Morre-se na solidão e na vergonha de um erro cometido igual ao acto que dá origem à vida: o de fazer amor. O esperma e o sangue, elementos essenciais à vida e que estão na sua origem são transformados em demónios e prenúncio de morte. Um crime hediondo visto por muitos como uma condenação perpétua sem perdão ou atenuante
Forjam-se criminosos de seringa em punho com sangue infectado, como se de uma pistola se tratasse, mudando apenas uma letra na frase conhecida “O dinheiro ou a [V]SIDA” .

Homens e Gatos, destinos semelhantes numa doença que não é perigo para ninguém, diz a ciência - e que tem formas definidas de transmissão, as quais são facilmente evitáveis.
Felizes os Gatos que como o Simão têm os dedos dos donos feitos para acariciar e o seu amor que os cuida e mima.
Infelizes os homens que na sua complexidade e independência sentem os dedos apontados, tantas e tantas vezes disfarçados de compreensão e tolerância não sentida.

Sentires sem sentido e medos que não causam temor com origem na ignorância. Razões sem razão para existirem, mas que por absurdo que pareça existem sem razão.

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