Quando as estrelas se escondem no firmamento, a lua deixa de brilhar e a luz da alma dos homens se apaga, impera o negro vazio do reino das trevas, onde a tormenta a raiva e o desespero são senhores do mundo. Entregam-se rendidas à negritude, como que arrastadas por levada de águas barrentas, que em incontrolável fúria descem a montanha engolindo tudo o que encontram no caminho.

Morre a esperança do viver, há abandono e pânico. Ouve-se o bater de asas dos vampiros esvoaçantes, senhores das trevas, na incessante procura do sangue quente da manada que lhes satisfaz tão voraz apetite. Sentem-se sombras invisíveis, abortos de luz arrepelada, entre o uivar de lobos como se fosse prenúncio de corpos dilacerados por afiados dentes que rasgam a carne e esventram órgãos em sumptuosos e sanguinários banquetes.
Esquece-se a luz e reina o império das trevas em perene eternidade dura e sofrida.

Subitamente há um clarear ao longe que a pouco e pouco se intensifica e ofusca o reino das trevas. Revelam-se as sombras e silencia-se o bater das asas dos vampiros. Adormecem os lobos em seus covis com as bocas tingidas com sangue de cordeiros.
Renasce a esperança ao nascer da aurora e nas almas em tormento surge de novo a luz interior que as faz brilhar.
O sorriso de crianças e o chilrear das aves da vida apagam todo o tormento sente-se a felicidade na simplicidade que a caracteriza. Vive-se a vida em cada renascer, procura-se a eternidade em harmonia e bem-estar. Esquecem-se os sofreres, as dores e as agruras vividas.

Esquecemos que tudo é perene e que a vida é fortaleza inexpugnável, forte como castelo de um baralho de cartas, enquanto o equilíbrio for senhor do seu destino.

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